@Estantedelivrosdamylla 29/06/2022
A busca pelo real sentido de "justiça"
"Michael Kohlhaas" foi o meu primeiro contato com a literatura clássica alemã, e desde já lhes digo que foi uma experiência bem interessante.
A obra escrita por Heinrich Von Kleist conta história de um comerciante de cavalos, (que possui o nome título da obra) que ao tentar fazer uma passagem por determinado território, é interceptado e cobrado um "passe" ilegal. Como não tinha esse passe, Kohlhaas é levado a deixar seus dois cavalos como garantia para quando retornasse com o dito passe. Porém, antes mesmo de retornar, seu servo - que havia sido deixado junto com os cavalos - retorna muito machucado, e lhe relata que fora agredido, assim como os cavalos estão sendo maltratados na fazenda. Após alguns acontecimentos, Kohlhaas tenta resolver a situação e buscar justiça por intermédio da lei, porém, devido a muita corrupção no sistema, ele não consegue o êxito, e então toma a decisão de "fazer justiça com suas próprias mãos".
"O mundo deveria abençoar sua memória, se não tivesse se excedido em uma única virtude."
- Essa obra é uma espécie de estudo sobre a real justiça. Para quem já estudou um pouco de Direito, é possível verificar a presença de diversas garantias processuais que foram negadas a Michael durante o processo, entre elas, e em mais destaque, a garantia da imparcialidade do juiz. Quase todos os personagens envolvidos no processo eram vinculados de alguma forma ao Junker, dessa forma, impossibilitando a busca da real justiça.
Além disso, a obra mostra um sistema burocrático e falho, onde a vítima não consegue ter acesso a meios adequados para buscar seu direito, sendo apenas um jogo de interesse dentro de um sistema corrupto.
Por outro lado, diante , mais uma vez, da ausência do Estado, a justiça feita com as próprias mãos. Ao que Kohlhaas busca atingir sua vingança, ele faz outras pessoas de vítima, incendiando e provocando a morte de inocentes. e então a pergunta que paira no ar "será que depois disso tudo, ele ainda deve ser inocentado?". A vítima se tornou o criminoso, e tudo isso foi fruto apenas de um ser: O Estado ausente.
Será que dá para ser mais atual? O Estado ausente que auxilia no processo de marginalização de parte da população, e como consequência, mais inocentes pagam por essa ausência.
Por fim, é uma obra que vale a pena ser estudada e lida com bastante atenção. Infelizmente os parágrafos são enormes, não tem capítulos, e diversas vezes é bem confusa em razão de patentes e postos oficiais difíceis de acompanhar. Contudo, foi uma boa experiência e é sempre bom conhecer algo" novo".
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