jota 15/06/2013Max ou Pi?Este livro, publicado no Brasil em 1981, serviu de inspiração (ou um pouco mais do que isso, na verdade) para o escritor canadense Yann Martel escrever seu A Vida de Pi e ganhar o prestigiado Booker Prize de 2002.
Fato de grande repercussão no jornalismo cultural e nos meios literários, chegando mesmo algumas pessoas a falar em plágio. Scliar escreve sobre isso na Introdução de Max e os Felinos e explica porque não moveu nenhuma ação contra Martel. Iria fazer papel de tolo.
Apenas até certo ponto os dois livros têm algo em comum que poderia configurar como plágio, e Zilá Bernd, no segundo texto introdutório – De Trânsito e de Sobrevivências – prefere, pois, analisar as convergências existentes entre as duas obras: “as temáticas da travessia do oceano, do naufrágio e dos sobreviventes adolescentes que chegam ao Novo Mundo reeditam os mitos de renovação constitutivos da americanidade.”
E depois ela conclui que Scliar e Martel “(...) vislumbram o espaço americano como espaço de negociação do identitário e nos legam uma lição de fundamental importância: não existem fatos, só existem narrativas...”
E a narrativa de Scliar corre para o sul, para o Brasil e o Rio Grande, enquanto a de Martel segue para o norte, para o Canadá. O tigre de Max Schmidt é empalhado, ficava sobre um armário na loja do pai, na Alemanha e diz respeito a sua infância.
O tigre de Pi Patel está vivo, é feroz, fazia parte do zoológico que sua família administrava. Max se lembra da Alemanha nazista o tempo todo; as lembranças de Pi referem-se a Pondichéry, antiga capital de Cantão, na Índia francesa, etc. Para além dessas diferenças e muitas outras, também das semelhanças iniciais, as duas histórias se mostram igualmente interessantes.
Para quem não leu o livro de Moacyr Scliar e tampouco o de Yann Martel recomendaria, caso se interessasse, que lesse primeiro o do brasileiro. Que tem, sobre o outro, a vantagem de ser bastante curto: é, praticamente, uma novela.
Lido entre 13 e 15/06/2013.