Nina Souza 01/05/2023
Um livro que me fez viajar
O Egito é o plano de fundo para um romance intercultural em que não só o amor, mas a curiosidade e o preconceito andam lado a lado. Características que fazem com que o romance protagonizado por Roberta e Farid desafie muito mais do que as barreiras linguísticas, religiosas e identitárias.
A alternância entre o presente e o passado foi um aspecto certeiro na narrativa, por poder proporcionar ao leitor não só deslumbrantes cenários orientais, mas a perspectiva das origens, das lembranças, dos receios, dos conflitos, das batalhas internas e externas e, acima de tudo, do choque cultural que ambos os protagonistas enfrentam em suas jornadas.
Por ser um evento baseado em fatos da vida da autora, eu temi por uma visão parcial que, para a minha satisfação, não aconteceu. A narrativa é limpa, é honesta e a autora teve um cuidado fantástico de não retratar apenas o que vivenciou, mas a totalidade dos aspectos bons e ruins apresentados nas identidades trabalhadas. Além, é claro, de ser visível muita pesquisa e sensibilidade para retratar uma das maiores polêmicas da humanidade: a religião.
Gostei muito de toda a imparcialidade, do respeito e do contraste de opiniões regularmente vivenciados no choque entre o ocidente e oriente, tornando a escrita fluída, reflexiva, real e com diversos fatos históricos que foram muito bem utilizados na narrativa.
A complexidade desse livro é fantástica e satisfatória. É possível ver um pouco da vivência muçulmana através dos olhos de diversos personagens que, através de suas próprias batalhas, emolduram diferentes opiniões sobre as temáticas. O que mais chama atenção é o retrato do feminismo no Islã, tal como as pequenas e grandes revoluções — e muitas delas, assim como apresentadas na obra, conflitam em casa pelas diferenças entre gerações, e o leitor pode ver isso de perto durante a leitura. O contraste foi muito bem-planejado, as personagens femininas são muito diferentes, com visões muito conflitantes e fornecem o necessário para o leitor perceber que a vida não é preto no branco como costumam classificar.
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