edu basílio 28/07/2020projeto coerente -- APESAR DE A LINGUAGEM AINDA SE CONECTAR POUCO COM O CIDADÃO COMUM
precisa-se, com urgência, de um projeto de nação que resgate a autoestima do povo brasileiro e traga-lhe de volta sua dignidade. as rédeas da nação estão entregues hoje a um projeto personificado por alguém sem preparo, talento ou carisma e, ainda pior, com fortes indícios de transtornos de personalidade que o fazem PRÓ-MORTE: morte literal e morte metafórica. morte da educação, da cultura, da inclusão social. morte das florestas, dos povos indígenas. morte por mais armas, por afrouxamento de regras de trânsito. morte por covid-19.
face a tanta MORTE permeando (de forma já indelével) as páginas que esses anos virarão nos livros sérios de História, qualquer projeto que evoque e enalteça a VIDA já traz alento. e a leitura deste livro me trouxe um pouco disso. não importa que quem o tenha escrito seja ciro gomes, porque não se trata aqui de fazer propaganda político-partidária, nem culto de personalidade.
trata-se, sim, primeiro, de analisar com fatos e com lógica a série de conjunturas e escolhas históricas que nos pôs em uma situação tão ruim. e após esboçar esse muito breve resumo histórico, o autor apresenta e explica propostas de ações concretas que visam trazer a melhora geral que todos precisamos e merecemos nas próximas décadas. um projeto de nação que a mim, que não tenho grande conhecimento nem de ciências políticas e nem de econômicas, pareceu salutar e digno de consideração:
- um novo sistema previdenciário misto, auto-sustentável sem ser excludente.
- um novo modelo de tributação simplificado, progressivo e não cumulativo.
- a valorização do setor agropecuário, indiscutivelmente um dos pilares de nossa economia.
- o estímulo ao alastramento de um parque industrial sustentável e compatível com o século XXI.
- o investimento em pesquisa científica, vista como instrumento de empoderamento do país.
- o investimento no acesso à educação e na modernização das práticas pedagógicas, em todos os níveis.
todas essas propostas pressupõem um modelo sóbrio de Estado como promotor e catalisador do desenvolvimento, com papel equilibrado, sem "keynesianismo versus neoliberalismo".
para mim, pessoalmente, esta leitura trouxe de volta alguma esperança, mesmo que ainda muito tímida, de que ser brasileiro pode, sim, voltar a se tornar motivo de satisfação. de que todos nós, em particular as dezenas de milhões de compatriotas que (sobre)vivem em condições miseráveis e desumanas, podemos recuperar nossa autoestima e nossa dignidade.
MAS: como não raro ocorre no discurso dos progressistas de hoje, a linguagem do livro ainda é frequentemente técnica e mesmo um pouco academicista (por mais que tenha sido notório, sim, o esforço do autor tentando atenuar isso). e os progressistas precisam encontrar uma forma de transmitir às pessoas do brasilzão, EM UMA LINGUAGEM QUE ELAS ENTENDAM SEM ESFORÇO, a essência de projetos belos como o esboçado neste livro, pois só assim conseguirão se
reconectar com elas... de outra forma, os
tweets curtos, a meia dúzia de chavões eficazes e a linguagem de "gente-como-a-gente-talquei" da extrema direita radical continuará conquistando o
senso de identificação (e o voto!) do comum dos cidadãos.
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um desabafo "pós-resenha" :
eu me sinto enjoado, bem de saco cheio mesmo, da dicotomia idiota que permeia quase toda tentativa de diálogo no brasil: é um eterno fla-flu, tudo ou é preto ou é branco; as tonalidades de cinza deixaram de existir. se você não apoia as psicoses e psicopatias do bolsonaro, "conclui-se" que você endeusa o PT, e vice-versa. isso precisa muito acabar!
é urgente que se unam todos aqueles que têm interesse em tornar esta nação um lugar feliz e sereno para quem vive dentro dela, bem como um nome respeitável para quem o ouve de fora, pois atualmente, ela não é nem uma coisa e nem outra: somos infelizes, maltratados, tensos e alvo de escárnio (infelizmente justificado) do resto do planeta.
é necessário que as classes políticas deixem as picuinhas partidárias de lado por um tempo para resgatar a democracia -- e nisso ciro gomes pecou gravemente, por omissão, em 2018!
é necessário acima de tudo que o povo seja efetivamente esclarecido, que continue desejando mudança, mas para melhor, e não mudança cega e irrefletida, ao ponto de entregar de novo o comando do país a lunáticos arrogantes.
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