Mayombe

Mayombe Pepetela




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Stella F.. 09/02/2022

Apesar do tribalismo
"Pepetela é descendente de uma família de portugueses nascidos em Angola. A sua obra reflete sobre a história contemporânea de Angola, e os problemas que a sociedade angolana enfrenta. Durante a longa guerra, Pepetela, lutou juntamente com o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) para a libertação de sua terra natal. O seu romance Mayombe, retrata as vidas e os pensamentos de um grupo de guerrilheiros durante aquela guerra." (pt.m.wikipedia.org/wiki/Pepetela)

A guerra pela libertação de Angola durou de 1961 a 15 de janeiro de 1975, quando ocorreu a independência. Foram vários grupos armados, como o MPLA, UPA/FNLA, UNITA e a Força Armada de Portugal. Muitos conflitos entre os grupos, havendo várias dissidências, com objetivos diferentes, o que dificultava mais ainda o sucesso da guerrilha, porque apesar dos angolanos ansiarem pela sua libertação do jugo português, muitas vezes, alguns interesses, os levavam a ficar do lado oposto ao seu próprio povo.

E penetramos então em Mayombe, uma floresta densa, muito verde, com grande diversidade, montanhosa e banhada por vários rios. Ela vai ser muito importante como pano de fundo e como personagem nesse romance que faz um recorte de um grupo de guerrilheiros tentando se deslocar para ganhar terreno, para mostrar que a guerrilha continua, apesar de muitos entraves burocráticos, desconfianças devido a um arraigado tribalismo interno e a questões individuais que dificultam tomadas de decisão.

Aos poucos vamos conhecendo os personagens, os guerrilheiros e seus superiores. Nomes que estranhei no início, mas que depois me acostumei, e compreendi que tinham relação com alguma característica física própria do personagem ou de sua história de vida. Temos Teoria (professor), Comandante Sem Medo (ousado, “livre”), Comissário Político João, das Operações, Milagre, Pangu-a-Kitina (enfermeiro), Lutamos, Verdade, Mantiânvua, Ekuikui (caçador de Bié), Mundo Novo (intelectual), Vewê, Ingratidão e Ondina. São muitos personagens e muitas vezes senti falta de ter anotado suas características, mas não comprometeu a leitura.

Os chefes criavam as estratégias, nem sempre em concordância geral, mas chegava-se a um consenso, e os grupos eram divididos e seguia-se o estipulado. Algumas estratégias deram certo, chegaram ao objetivo desejado, outras nem tanto, mas seguiram tentando, era o que estavam ali para fazer. Cada um estava na guerra por um motivo particular, muitas vezes incompreendido pelo próprio personagem. A batalha final, foi linda, com todos unidos pelo bem comum, apesar das desconfianças e do tribalismo, que naquele momento foi esquecido. Os kibundos, kikongos e outras tribos, esqueceram toda a rivalidade e expulsaram os portugueses do Pau Caído, local bem perto da base, onde estavam tentando pegar a trilha para chegar aos guerrilheiros.

Entre os guerrilheiros criou-se uma relação, muitas vezes de desconfiança, amizade, liderança, união, solidariedade e de ombro amigo. Naquele dia a dia pesado, de incertezas quanto à guerrilha, os sentimentos foram muito importantes para a luta diária. Mais do que a guerra em si, o livro trata dos sentimentos e de questões como tribalismo, amor, amizade, tempo, experiência, conhecimento, traição.

“Os adversários podem ganhar, no sentido em que saem com mais dinheiro que o capital inicial; mas o verdadeiro vencedor foi aquele que os fez empalidecer, apertar os lábios, roer as unhas, tremer, ter vontade de urinar, e se arrepender num instante de jogar. O verdadeiro senhor, o conquistador, não se aborrece por ter perdido: essa é a sua ocasião de dominar e, se de facto impôs a sua lei, contenta-se com a derrota.” (pg. 160)

Sem Medo, o comandante, é com certeza o personagem mais marcante. Junto com Ondina e o Comissário, formam um trio onde se desenvolve uma grande relação de amizade, amor e traição. Sem Medo é um filósofo que nos ensina muito sobre a vida, a morte, o amor, a liberdade.

“Tenho medo é de me amedrontar quando vir que vou morrer, e perder o respeito por mim próprio. Deve ser horrível morrer com a sensação que os últimos instantes de vida destruíram toda ideia que se tem de si próprio, toda a ideia que se levou uma vida inteira a forjar de si próprio.” (pg. 29)

Ou seja, um livro sobre a guerra e seus bastidores, um mergulho no que a guerra é para cada personagem e um estudo psicológico profundo sobre estar ou não a favor ou contra cada personagem e as relações de liderança.

Achei o formato da narrativa interessante. Um relato corrido que de vez em quando era interrompido por uma narrativa de cada personagem específico, onde ele falava um pouco de si e do que estava achando dos acontecimentos ocorridos naquele momento, por exemplo, EU O NARRADOR SOU TEORIA.
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