rxvenants 15/03/2024Me dá desconfiança ?ALERTA DE CONTEÚDO: O livro fala sobre assassi'nato, abuso de dro'gas, reabilitação, tor'tura e breve assé'dio. Se você é sensível a um ou mais temas, recomendo que não leia o livro ou leia-o com cuidado.
Pensei bastante o que eu falaria nessa resenha e não sei se consigo passar tudo que penso, mas vamos lá.
Primeiro em questão do tema do livro.
Apesar de achar a sinopse intrigante e os desenhos uma adição incrível ao livro, tenho diversas ressalvas sobre os personagens principais e o tema que o autor decidiu utilizar.
Eu acho muito esquisito isso de a Mallory ser uma cristã fervorosa e os pais do mal são ateus claramente de esquerda.
O retrato dos pais é levado ao extremo e eu não teria problema nenhum com isso (já que também é comum o contrário) se não fossem as retóricas de extrema direita nessa representação.
Os pais são ateus, não comem carne, não gostam de crianças com tempo de tela altos e são "livres" com "educação se'xual". É uma representação clara da esquerda.
E pra falar a verdade, isso não afeta em NADA a história. Só tá lá pra fazer a gente estranhar como os pais tratam a vida.
De verdade, se os pais fossem de qualquer outro jeito, não ia mudar em nada a história além de retirar a visão do autor dessas pessoas.
Os pais não querem que a criança entre em contato com nada de religião e apesar de ser um pedido razoável já que o contrário também é válido (apesar de eu achar esquisito pais que não querem que os filhos entrem em contato com a ciência, mas enfim), o autor apresenta essa informação de um jeito que faz o pais parecerem loucos logo de cara (e eles são mesmo, mas não essa razão) e isso traz diversas situações bizarras.
A primeira delas é quando Teddy pergunta sobre órgãos genitais e a mãe dele compra diversos livros sobre "educação se'xual" que na verdade são só livros sobre se'xo. É uma ideia da extrema direita que educação se'xual é mostrar se'xo anal e oral pras crianças.
É incoerente que a mulher que se preocupou com uma criança que ficava no celular num parque sendo esquecida pela mãe faça isso com a criança depois.
Não tem nenhum motivo pra isso além de ser uma crítica.
Isso não afeta a história e poderia ser descartado. Não vejo motivo pra estar lá além de ser pra passar algo que o autor quer.
E esse negócio de tempo de tela também me incomoda pois é uma coisa totalmente razoável, mas a protagonista não gosta que o Teddy não tenha assistido coisas normais pra idade dele, mas depois fica decepcionada quando a mãe dá um tablet pra ele. Se decidir não quer, né?
Isso inclusive me incomodou também como os pais em situações extremas são hipócritas e fazem o que não gostam (o Teddy ganhar um tablet e a mãe que trabalha com viciados em drogas falar mal deles na primeira oportunidade que tem).
O livro é uma grande crítica a esse estilo de vida e a hipocrisia desse tipo de pais.
E aí a gente chega no plot twist final que sinceramente me deixou dividida até agora.
Hidden Pictures é de 2022.
Não consigo achar uma desculpa pra algum autor colocar críticas a pais de esquerda ateus, colocar esse casal mudando o gênero de uma criança sequestrada, perguntando pra babá, a mocinha cristã, se ela tem problema com pessoas trans e depois dar duas menções honrosas pra J.K. Rowling.
Deu pra entender?
Não sei se é uma alegoria da ideia da direita que crianças trans são mudadas pelos pais malvados e não querem realmente terem outro gênero ou se é só um recurso de casos reais (raros) em que crianças sequestradas tiveram o gênero mudado pra evitar identificação.
Eu quero acreditar que é o segundo caso, mas por qual outro motivo o autor falaria bem da J.K. Rowling DUAS VEZES e traria o assunto de mudança de gênero como algo ruim feito pelos pais como plot twist final?
Eu com certeza acreditaria que é só pra que Teddy não seja identificado, mas as menções pra J.K. Rowling são específicas demais pra que eu não preste atenção.
E se isso não afeta a história como um todo, se isso é coisa da minha cabeça, pra quê esse foco todo no epílogo?
"The doctors warned that you would likely spend years grappling with your gender identity, but the doctors were wrong [...]"
"Deep down inside, I think you always knew you were a girl."
Que isso, meu deus? Eu entendo que a Flora não era realmente trans, mas esse foco todo no gênero dela me incomoda. Assim como me incomoda a Mallory falar que o segundo maior erro dos pais foi trocar o gênero dela (logo atrás do sequestro). Acho que existem erros maiores como mexer com a cabeça da menina.
E eu odeio também as noções que o autor traz de gênero. A Flora sempre sentia que era menina pois gostava de coisas femininas como uma camiseta roxa de listras e não andava com os meninos no parquinho pois era tímida?
Que tipo de Damares dos EUA é esse?
Meninos usam azul e meninas usam roxo.
Enfim, isso são coisas que eu percebi no texto e apesar de não ter confirmação nenhuma, eu achei esquisito. Não consigo deixar de lado um livro com ESSE plot twist ter duas menções a J.K Rowling quando 2022 foi um dos anos que ela mais falou sobre esse assunto.
Tirando todo o tema político subentendido, eu achei a escrita do autor bem mais ou menos e as inconsistências dos personagens me incomodaram também.
Primeiro que eu não entendo como uma recém reabilitada seria contratada como babá.
Na situação dessa família faz sentido pois a mãe precisava de alguém com problemas e que poderia ser acusada caso algo de ruim acontecesse, mas acho esquisito a Mallory e o sponsor dela não acharem estranho uma família procurar por um ex-viciado pra ser babá. Infelizmente, isso não acontece.
Outra coisa é a Mallory ser a pior babá do mundo. Ela dorme quando não deve, deixa a criança COM O NAMORADO pra ter uma sessão de Ouija Board com a vizinha (até a mãe sequestradora fala disso e olha que ela não é a melhor pessoa no quesito de razão) não conta coisas pros pais da criança e não tem voz nenhuma.
Que tipo de babá passa MESES, mais de metade de um ano, com uma criança e não percebe o corpo dela???? O Teddy tem CINCO anos na história. Sério que não teve uma situação que ele precisou de ajuda????
(E esses personagens não se comportam como a idade que tem)
Os preconceitos gratuitos também me deixam com irca.
A vizinha racista faz um comentário sobre imigrantes mexicanos (e claro que eles são jardineiros, né?) e isso nunca é confrontado no livro.
A Mallory direto faz comentários sobre o corpo das pessoas sem nenhuma necessidade para a trama. Ela fala sobre o corpo de todos os vizinhos, do Ted e sobre a mãe dela não poder ajudar ela com o problema com as drogas pois ela era gorda e fumante (?????) ? e é claro que no final feliz a mãe dela começou a se exercitar e ficou magra.
E tem também uma cena que o cara que ajuda ela e ela vão pra uma confeitaria e eles contam até calorias.
Não sou a maior especialista do mundo, mas eu sei que contagem de calorias pra pessoas com problema de vicio é uma péssima ideia pois isso acarreta em vícios e problemas diferentes das drogas.
Além disso, eu achei a escrita meio amadora.
Talvez seja por ser o primeiro livro de terror do autor, mas faltou muito desenvolvimento pra mim.
Sério que a Mallory deu uma olhada no corpo do Teddy totalmente por acaso e soube que ele era a menina sequestrada? O livro todo pra ela descobrir do nada desse jeito?
Sério que o Ted fez sabe-se lá o quê com três sutiãs da Mallory na cama dela e ela ficou DE BOA? Ela só dormiu no chão e é isso? Não reclama, não fala com ninguém?
Essa conformidade da Mallory me irrita demais.
E quem leva talco de bebê na veia e fica de boas? Eu tenho certeza que isso dá ruim de algum jeito.
Também não gosto muito do Adrian e da Mallory juntos pois não tem nada neles que me faça acreditar que eles se gostam além da conveniência. O autor precisava que alguém acreditasse cegamente na Mallory e essa pessoa é ele.
Ele procurou sobre a Mallory e a faculdade (PRA QUÊ?????) e quando não encontrou nada além das notas dela do ensino médio (como que as notas dela eram altas se ela mesmo diz que os professores passaram ela por dó?), ele achou que ela tava na universidade mesmo e é isso?
COMO que a mãe sequestradora sabe que os poderes da Anya são limitados???????? Do nada uma caça fantasmas que entende sobre limitação de poderes.
E outra, qual o motivo do fantasma ter poderes limitados????? O que impediu a Anya de ter entrado antes no corpo do Teddy e ter matado a mãe sequestradora antes se ela fez isso no final????
Conveniente.
Outra coisa que eu não gosto é quando o plot twist do final não conecta em nada com o resto da história e a gente não consegue tirar a conclusão por conta própria com as pistas.
Sim, o Teddy pergunta sobre órgãos genitais e sim ele gosta de coisas femininas (a camiseta????? como eu ia adivinhar que isso era uma pista????), mas em que universo eu ia adivinhar que ele era uma menina? Ao contrário do autor com noções de gênero meio Damares, eu nem me preocupei com o Teddy gostar de roxo e não falar com outros meninos ou não ter um Hot Wheels.
E outra, como eu ia saber que Flora era um nome? A história nem deu tempo ou pistas pra gente adivinhar o que a fantasma quis dizer.
Enfim, eu gosto muito da ideia dos desenhos, é definitivamente minha parte favorita e uma das mais originais em livros de suspense, mas tem problemas demais que não consigo esquecer.
Se tirarmos todas as noções políticas, achei um livro mais ou menos.
Tinha muito potencial, mas eu não gosto do rumo que o autor toma.