Inventário do azul

Inventário do azul João Anzanello Carrascoza




Resenhas - Inventário do Azul


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Jasmine 19/05/2022

Sobre Inventário do azul
Inventário do azul assemelha-se, por um lado, a um repositório da memória individual (e social, em alguma medida) do personagem principal não nomeado. Por outro lado, carrega o sentido daquilo que o título traz: o arrolamento de ?bens? após o contrato com a morte; o inventário do que lhe é caro, infinito, profundo, bonito e triste, tudo aquilo que é profundamente seu: suas memórias.

Embora comum na autoficção, são muito sutis e pouco precisos os limites entre a vida do personagem e a do autor. A terceira pessoa é um marco dessa distância, mas não parecem muito nítidas outras dessemelhanças entre ambos. Nada aqui teria obrigação com o que ensinam a arquivística e a história, sobre a construção de um inventário analítico, quando pressupõe o levantamento de fontes, recolha, classificação, objetivo e organização. Mas Carrascoza faz esse trabalho com a acuidade que é própria de sua escrita na matéria bruta dos sentimentos, das emoções e das preciosidades recônditas.

O livro inteiro é um mosaico dessas pequenas pedrinhas preciosas reluzentes: os instantes eternos que compõem a vida que se leva, os amores e uma coleção de saudades. O personagem principal alimenta alguma melancolia pelas rupturas e perdas que lhe foram marcantes, mas as tintas fortes são vistas quando se refere ao amor pelos filhos, o rapaz e a menina, para quem ele deseja oferecer apenas a vida, e nunca a morte, se assim fosse possível. Sua dor mais aguda vem da ferida jamais fechada da partida dos pais (especialmente o pai), sua bússola, o amor que lhe foi oferecido e, sem parcimônia, entrega aos filhos, às ex-mulheres, às coisas miúdas do cotidiano, aos silêncios que dizem tudo que as palavras ? matéria de seu ofício e de sua respiração ? não dão conta.

Na ausência de palavras melhores, recortando alguns excertos, seus leitores poderiam lhe dizer que ?este livro não irá para a lixeira universal?, porque estas cenas ?foram gravadas nos olhos do espaço-tempo, onde os acontecimentos vividos não podem ser alcançados pela morte?. Obrigada, @joaoanzanellocarrascoza , por mais ?dois centímetros ou trezentos gramas? que, na unidade de medida das emoções, medem e pesam infinitamente mais.
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