LivroAleatorio 03/01/2024
Memória histórica, luta feminina, legado de vida
Esse livro traz e história de vida da Leolinda e das atas de reuniões.
Através dessas atas nós podemos sentir como eram tratadas as questões políticas femininas no Brasil entre as últimas décadas de 1800 até os anos 1921.
"A conclusão lógica a que o governo deveria chegar era a seguinte: se uma mulher, excepcionalmente, prestou um serviço que até então nenhum homem prestara, a essa mulher não deveria ser negada a investidura de um cargo para o qual já havia dado provas de competência. Ainda mesmo que estivesse demonstrada a incapacidade do sexo feminino, diante dessa exceção, o governo não deveria hesitar em fazer justiça ao mérito. Mas o que havia não era incapacidade feminina para a missão a que eu me propunha, era a má vontade oriunda da campanha contra mim movida durante o tempo em que estivera ausente desta capital."
Eu achei muito interessante a perspectiva de sentir um pouco como essas mulheres começaram a abrir caminho para que nós hoje em dia pudéssemos caminhar nessas trilhas e, mais importante ainda, nos recordar que apesar da trilha ser aberta, constantemente vão tentar fechá-la.
"Não pensa que as senhoras presentes devem abster- se de campanhas políticas, porquanto essa abstenção seria a confissão tácita da incapacidade feminina. Quanto aos dissabores que uma campanha possa trazer, eles não nos devem causar nem surpresa nem desânimo desde que nos dispomos a enfrentar a luta."
"A mulher tinha provado competência para o cargo; mas o regime oficial e burocrático criava, como entrave à nomeação, a condição do sexo da candidata! Recebi as palavras do ministro Rodolfo Miranda como se fossem a declaração positiva da nulidade feminina, como se ouvisse uma legenda ignóbil da desmoralização do meu sexo! Senti, então, em mim, despertar o espírito da revolta; compreendi ser necessária uma campanha persistente e tenaz no sentido de destruir o terrível preconceito!"
A impressão que fica é que a Leolinda foi uma mulher que viveu intensamente, botando a mão na massa. Até treinar militares ela treinou, apesar dos homens rirem e ridicularizarem a existência de mulheres militares. (Até aí nenhuma surpresa)
"Na opinião positivista do coronel Rondon, a mulher só tem competência para administrar o departamento culinário do lar, acalentar crianças, lavar e engomar, ou então passear pelas avenidas, entregando- se aos prazeres do luxo e... e... basta."
Ela também teve muita influência em questão de profissionalização, educação e povos indígenas. É muito louco pensar em ser criminalizada por ensinar matérias escolares consideradas "avançadas demais para meninas".
"Adquiri a convicção profunda de que, um dia, estabelecida entre nós a coesão suficiente, haveríamos de conseguir também a nossa emancipação, provando, por atos e fatos, a nossa capacidade moral, intelectual e política!"
Por fim, foi uma boa leitura de não-ficção história, para conhecer um pouco como era a vida e a luta das brasileiras nesse período.