spoiler visualizarKet 04/12/2023
Silenciosas e silenciadas
Eis um livro que me pegou pela sinopse e pelo olho, pois o projeto gráfico é belíssimo! A história vai ser contada pelo ponto de vista da Briseida (Briseis) logo após ser capturada pelo exército grego e entregue como prêmio à Aquiles. A proposta da autora é trazer um olhar diferenciado e uma reflexão sobre a vida das mulheres nessa situação: guerra, captura, invisibilidade, falta de voz e agência.
Minha opinião: gostei de algumas coisas e achei que outras poderiam ter sido trabalhadas de outra forma. Gostei da escrita, achei bem fluida e sensível, do tipo que nos envolve até o final. Por outro lado, não gostei tanto da escolha da autora em, durante determinado ponto do livro, passar a narrar a trama pelo ponto de vista... masculino (Aquiles e Pátroclo). Senti que a Briseida perdeu a voz dentro da própria historia, o que não fez sentido algum. A principio achei que era proposital ( o tal silêncio das mulheres)... mas sabe quando você percebe que o escritor tem afinidade com os personagens? Então, senti que ela realmente gostava de falar sobre Aquiles e Pátroclo.
Também pensei que o livro focaria nas experiências das mulheres do acampamento; suas dores, seus dramas, seus histórias, seus medos. Mas, apesar de passar bastante tempo com elas, a Briseida fala pouquíssimo sobre suas companheiras de destino (e, às vezes, quando fala é de modo crítico). Ela usa seu tempo pra discorrer enormemente sobre Aquiles e Pátroclo. O que eles fazem, o que sentem, o que dizem, o que pensam... Tive a impressão de que a Briseida, no fim das contas, aumentou o silêncio das mulheres, pois quase não falou sobre elas.
Mas enfim, essas foram percepções muito pessoais e mesmo assim, acho que todos devem ler e tirar suas próprias conclusões. Tenho gostado muito dessa onda de livros que revisitam a história clássica e abrem nossos olhos para novas interpretações e quero ler outros trabalhos da autora.
Nota final: 3,5