spoiler visualizarKathleen19 19/03/2023
Um texto que precisava de mais tempo pra amadurecer
Uma ideia muito interessante mas mal executada, o desenvolvimento da história não tem fôlego pra segurar o próprio conceito. O protagonista no começo é muito chato, muito mimado e pouco age como um deus milenar.
Além disso, o mundo criado tem sérios furos, como a ideia de que só exista um único cupido para o mundo inteiro, o protagonista, e ele vive muito bem como dono de um aplicativo fazendo bailes em SP, então, no geral, o SAC do cupido tá lotado enquanto ele está muito bem brincando de burguês. O autor não se incomoda em explicar como acontece com os outros casais que se apaixonam sem a necessidade dele, já que ele mesmo fala que não dá conta de todo mundo e nem acerta sempre quando junta alguns casais. E se não dá conta, nem é certeiro, pra que ele existe? Fora isso ainda tem os casais homossexuais que não deixam de estar juntos, apesar de Eros só juntar casais héteros, questionando mais uma vez a necessidade de existência dele. Um outro grave furo é a condenação de Zeus em fazer Eros juntar casais héteros em troca de manter a vida e segurança de pessoas LGBT, mas qual a importância dessa ameaça se essas pessoas continuam morrendo, independente do que ele faça? Qual o impacto real, se ele não protege essa comunidade?
Sobre a psicóloga dele, achei um recurso queimado antes do tempo a ideia de contar pra ela com certeza que ele era o cupido. Seria mais interessante se ele deixasse ela em dúvida, causando ambiguidade até no leitor sem saber se ele realmente é o cupido ou só está em surto psicótico. Achei que seria mais interessante se fosse uma história contada a partir das sessões de terapia dele, não seguindo todos os seus passos. Como ele tinha uma relação ruim com a família, seria totalmente crível que ele tivesse inventando uma realidade pra lidar com o sofrimento causado pelos parentes em função de sua sexualidade, mas tudo foi estragado quando ele confirmou a informação da vida íntima da psicóloga.
Além disso, o final foi muito corrido e conveniente. Gente, a Bruna se transformando em deusa do amor e o Guilherme perdoando tudo pelo Nando Reis??? Eles mereciam mais tempo de desenvolvimento, queria ter visto mais a personalidade da Bruna, visto como ela aprenderia a ser Eros, como o antigo cupido iria ensiná-la, como Guilherme e Theo iam se resolver de forma madura, sabe? Ficou parecendo que toda aquela chateação deles serviu pra NADA, fora que o motivo da chateação em si era difícil de engolir visto que o Theo tava tentando salvar a vida deles de um psicopata.
No geral, o texto só parece meio cru e o universo precisava de mais tempo pra amadurecer. A ideia é genial, tinha tudo pra ser muito boa mesmo, mas pecou em desenvolvimento, deixou passar muita cartilha óbvia e enredos pouco convincentes. Mas os agradecimentos do autor foi muito fofo e acho que ele se daria melhor com um texto que exigisse menos densidade exceto em situações específicas, já que ele foi muito bem sucedido em escrever sobre a amizade do Theo e do Alvinho, uma das cenas mais emocionantes.