spoiler visualizarDEA 07/10/2023
O livro é fluído principalmente no início e, o humor negro do Bird torna a leitura muito divertida. Mimi é animada, mas às vezes bastante inconveniente até meio egoísta em certos momentos, insistindo ou melhor, forçando Bird a ir nos lugares que ele claramente não tem a menor vontade de ir, inclusive não levando em conta distância ou as limitações físicas dele. Porém percebemos conforme vamos lendo que ele sofre de depressão, como eles chamam de "seus demônios", inclusive dando nomes para eles, talvez uma forma de lidar com esses sentimentos negativos ou poder falar sobre isso de uma maneira mais leve. E também pode ser que a insistência da Mimi seja uma maneira meio desesperada e frustrante de tentar ajudá-lo a sair dessa situação.
No final do livro entendemos que o que contribuiu para Bird estar tão sem esperança, sem objetivo e desmotivado foi que como jornalista e fotógrafo, ele acompanhou mais de uma vez as injustiças cometidas contra os indígenas e ele percebeu que apenas escrever não fazia nenhum efeito para resolver essas situações e desistiu, parou de escrever. É evidente o sentimento dele de impotência, se culpar por algo que talvez sequer teria controle.
O livro é literalmente uma viagem, o autor descreve cada canto de Praga, os pontos turísticos, além de outros países que visitaram e conforme eu lia, fui pesquisando, isso deixou a leitura muito mais rica e interessante, além de sentir como se estivesse com eles e ficar com uma vontade imensa de viajar também ?.
O porém do livro é que, como a essência dele é literalmente acompanhar a viagem do casal, como o título já diz, conforme vai chegando o final, vai ficando cansativo, repetitivo, maçante e a Mimi fica insuportável, além de algumas histórias que na minha opinião poderiam ter sido excluídas.
E o final, bom o fim é exatamente quando acaba a viagem, eles voltam para casa e ponto final ?, ou seja não acontece absolutamente nada diferente.
O livro vale a pena ser lido por trazer à tona a história dos indígenas onde mostra o absurdo que foi cometido tanto no Canadá como nos EUA através das escolas residenciais, que inclusive na maioria eram gerenciadas pela Igreja católica, o que torna a situação mais difícil de digerir, ou, criar reservas limitando eles num pequeno espaço etc. São situações que raramente paramos para refletir ou que talvez nem conhecemos em detalhes.
Inclusive essas histórias das escolas residenciais, as crianças que foram tiradas (roubadas) dos pais, são mostradas em duas séries, que super recomendo: Anne with an E (se passa no Canadá) e 1923 (nos EUA). E outro ponto positivo do livro que torna válida a leitura é essa maravilhosa sensação de estar viajando.
Bom, após ler a entrevista do autor na revista da Tag, fica claro que o Bird é o reflexo do próprio autor ?, devido às inúmeras semelhanças, mas claro, com algumas adaptações/alterações. E como o objetivo dele era falar sobre as injustiças cometidas aos indígenas, ele foi muito bem sucedido nisso, mas o livro seria perfeito se fosse mais compacto, o efeito teria sido mais interessante, na minha opinião. ?