Paula 07/01/2016Quem realmente é Inês?
Um Crime Delicado, de Sérgio Sant’Anna, traz em auto narração Antônio Martins, um crítico de teatro que se envolve casualmente com Inês, que posteriormente ele descobre como sendo modelo de Vitório Brancatti, e então passando a especular e sugerir como sendo alguém a ter uma relação sádica com a moça.
Antônio entra em devaneio após conhecer Inês, que se torna a partir daí sua musa, causa para a perda da calmaria em sua vida tão centrada, atrapalhando seu raciocínio lógico, tornando-o um grande questionador. Ele divaga e entra em sentimento intrínsecos e duvidosos como a raiva e o ciúme, esses dirigidos à Vitório Brancatti, que devo ressaltar, o livro não revelou o que realmente era de Inês, além de “financiador”, ou “patrão” de Inês.
Quem é realmente Inês? O que pensa ela? Um livro inteiramente narrado por um personagem que no final das contas é acusado de abuso sexual nos leva a concluir que o autor justamente não queria que tivéssemos uma conclusão clara de como foram as coisas, e sim que pudéssemos avaliar nossa cumplicidade ou não à Antônio, o julgando inocente, ou mesmo depois de tanto ele esmiuçar os fatos, conseguíssemos detestá-lo.
Um livro com um detalhamento quase fútil, é fácil se perder na leitura esquecendo-se realmente do que era quisto ser retratado. O interessante é quantas vezes o personagem se perdia para assuntos terciários, em nada coligados ao caso “Inês”. E Inês? Para uma personagem tão importante, ela pouco teve ação, e tão abertamente fora citada sendo então quase fictícia para o próprio personagem principal, ficando sem uma voz, sem modos que a detalhassem quem ela realmente era, o que pensava, e não somente o que Antônio sugeria ou almejava dela. Entendo que, o que autor pretendeu, é mostrar que nem mesmo o próprio personagem/narrador, sabia as respostas para as perguntas que ficam no ar, após essa leitura. O que nos resta apenas é questionar, deduzir, e ser assim, um dos tantos que estiveram no júri que não absolveu nem culpou Antônio.
Ficamos sem saber quem era Vitório, Nílton, Inês; se eram “mocinhos” ou “vilões”. Será que a intensão desde o início foi deixar o leitor sem essas informações básicas? Por que Antônio de nada sabe e tão envolvidos com ele ficou?