Camille.Pezzino 04/01/2023
RESENHA #225: A ALMA DOS CONTOS
Contos de fadas, em sua origem, não são histórias fofas ou delicadas, na verdade, seu teor coincide com a ideia do sobrenatural e do sombrio, os quais atormentavam os indivíduos do passado, longe de qualquer proposta científica. Os poemas elaborados por Nikita Gill mantêm, essencialmente, a narrativa dessas histórias extraordinárias que, pouco a pouco, foram desbravando os séculos e continuam a nos encantar ou aterrorizar até hoje.
Contos de fadas & poemas vorazes para alimentar a alma tem o que é principal para essas narrativas, mas, ao meu ver, também peca ao reproduzir essas tramas, já que Gill remodula as histórias tanto no que tange ao conceito delas quanto na forma. Assim, é um livro interessante àqueles que querem desbravar o mundo dos contos de fadas de forma mais crua, porém ainda peca em retratar partes essenciais dessas histórias, pois, ao reformular alguns pontos, a criticidade original se perde em troca de uma nova crítica, nem sempre bem alocada no texto.
Antes de tudo, é necessário considerar que o modelo de prosa intercalada com poesia não é uma novidade nas tramas de contos de fadas, como ocorre com Chapeuzinho Vermelho, de Perrault, além de ser essencial, ao considerar que essas narrativas tem origem oral e algumas eram cantadas e/ou declamadas. Também não é uma novidade, como ela parece apresentar, que essas histórias falem sobre os receios do feminino, desde o medo dos homens até o receio entre mulheres criado pela estrutura patriarcal. O que é novidade – em relação aos contos de fadas originais do eixo europeu mais famoso, mas não as adaptações subsequentes – é deslocar o papel feminino da princesa para o do aventureiro. Essa mudança de perspectiva é contemporânea e ganhou muita força nos últimos anos, principalmente por estar associada diretamente a mudança do papel social da mulher durante e após a Primeira Guerra Mundial.
Essa é uma obra que trata, sobretudo, da subversão e da mudança de papéis dos personagens, também adapta as próprias linhas narrativas para que caibam nas críticas que a escritora as aloca, o que me agrada, embora nem sempre acerte, ao meu ver. Também pontua o feminismo, sem deixar de lado problemas do movimento social; e os mais variados problemas da sociedade.
QUER SABER MAIS? ACESSE EM: https://gctinteiro.com.br/resenha-225-a-alma-dos-contos/
site: https://gctinteiro.com.br/resenha-225-a-alma-dos-contos/