Queria Estar Lendo 17/10/2022
Resenha: A Sociedade de Atlas
O hypado título de dark academia do TikTok chegou até mim! E eu adorei! A Sociedade de Atlas, obra de Olivie Blake que ganhou o mundo através da rede social dos hits, é extremamente instigante, sombrio e questionador.
Seis pessoas são escolhidas para ingressar na Sociedade Alexandrina. Apenas cinco são aceitas ao fim de tudo. Nessa realidade, a magia existe e rege o mundo; há mais de dez bilhões de pessoas vivendo na Terra, e a superpopulação vive em harmonia (mas não em igualdade, porque poder ainda é poder) com os medeianos (pessoas que conseguem conjurar a magia).
Existe uma sociedade secreta responsável por cuidar de todo o conhecimento do mundo. Fundada com a Biblioteca de Alexandria, essa sociedade escolhe os melhores entre os melhores para ingressar em sua academia. Seis medeianos foram escolhidos; só cinco vão entrar.
O funcionamento da sociedade, da academia e dos segredos que permeiam a Sociedade são extremamente misteriosos. Mas não vão impedir essas seis pessoas poderosas de estudar, entender e, quem sabe, questionar o que estão vivendo.
A Sociedade de Atlas é um livro extremamente lento. Eu já começo a resenha por aqui, porque eu vi muita gente criticando o ritmo dele e não foi muito diferente do que se espera de uma dark academia. Esse "sub-gênero" literário não tem que ser épico, cheio de ação e reviravoltas. É uma ideia a ser trabalhada. Questões acadêmicas e filosóficas a serem levantadas. Fala sobre a moral sombria do ser humano, a ambição, o custo do poder.
E A Sociedade de Atlas fez tudo isso muito bem.
Não significa que ele não tenha uns enroscos. Tem. Mas não é nada que atrapalhe a leitura ou que a torne insuportável; lá para a metade do livro, eu senti que faltou um pouco mais de desenvolvimento de algumas coisas que viriam a acontecer para o fim dele. Pontos-chave que a autora acabou jogando na trama, em vez de falar cuidadosamente sobre eles. Ou pelo menos para plantar a sementinha da dúvida.
De resto, a estreia de Olivie Blake é, sim, digna do hit. A Sociedade de Atlas é um dark academia com tudo de melhor do gênero. Seus seis protagonistas são terríveis, no melhor sentido da palavra. Egoístas, mesquinhos, medrosos, egocêntricos, babacas. Não tem um personagem entre eles que eu salvaria pela moral, e essa é a beleza da história.
"- Porque o problema do conhecimento, srta. Rhodes, é seu desejo insaciável. Quanto mais você tem, menos sente saber alguma coisa."
Libby, Parisa, Callum, Tristan, Nico e Reina são horríveis. Cada um deles tem uma história de vida pesada, que vamos entendendo com o passar do tempo. Cada um deles tem personalidades bastante distantes, o que torna suas interações muito instigantes.
Libby é a nerd. Ela e Nico têm poderes iguais e que se completam, e se odeiam por isso. São rivais acadêmicos desde que se conheceram. Mas, uma vez dentro da sociedade, acabam dependendo um do outro por se conhecerem melhor.
Libby é a personagem questionadora, CDF pé no saco que toda sala de aula já teve. Ela tem uma fragilidade inerente que entendemos com o desenrolar da história, e que justifica toda essa ânsia dela por conhecimento.
Nico, por sua vez, é um fanfarrão muito inteligente. Ele é o completo oposto da Libby em relação às interações sociais, muito mais solto e leve. Mas carrega consigo um fardo, um motivo maior para estar ali na Sociedade, para querer acessar todo o conhecimento do mundo. E esse fardo acaba por arrastá-lo em direções frágeis.
Eu gostei muito de como os dois começaram nessa questão forte de rivalidade e ódio, e como isso acabou se desenvolvendo em "eu te ajudo e você me ajuda porque somos únicos aqui" dentro da história.
Parisa, por sua vez, é uma femme fatale. E ela usa isso a seu favor. Achei muito interessante e fora da curva o desenvolvimento que ela teve na trama. Como suas ambições e poderes se desenrolam para mostrar seu lado humano - sem nunca abandonar aquela aura de viúva negra que ela carrega tão bem.
"- Há uma diferença entre o que somos capazes de fazer e como escolhemos usar essa capacidade."
Nem preciso dizer que a Parisa foi minha favorita, né? É tão bom ler uma personagem feminina terrível, cheia de si, que passa por cima de qualquer pessoa para ter o que quer.
Callum foi o mais detestável, e com razão. O poder dele combina em muito com o que ele é: essa pessoa mesquinha, egoísta, que dobra o mundo a seu favor porque sabe que pode. Eu o odiei tanto quanto admirei a construção do seu personagem.
Ele tem aquela aura de vilão. Mas será que é? Ou será só outro personagem terrível fazendo o que bem entende porque é assim que pessoas com poder agem normalmente?
Tristan foi um enigma. Tanto pela questão com seu poder, que fica se revirando enquanto tentamos entender, quanto pelo seu passado e personalidade. Ele é, a meu ver, o elo mais fraco do grupo justamente por ser tão instável e por carregar uma carga emocional tão pesada.
Nem por isso foi menos interessante. Pelo contrário! Os pontos de vista do Tristan sempre tinham aquela aura de "mas será que ele é assim mesmo? Tão frágil, tão suscetível? Ou estou me deixando enganar?".
"- A magia vem com um preço. Você sabe disso. Alguns assuntos requerem sacrifícios. Sangue. Dor. A única forma de criar tal magia é destruí-la."
Por fim, Reina, que foi com certeza a mais difícil de entender. Seu poder é ligado à natureza, e faz dela uma força natural. Reina não se dobra a nada e ninguém, e se mantém na sombra da Sociedade e dos membros dela porque sabe que não é um lugar onde pode confiar em alguém.
Mas ela também sabe que a sobrevivência vem em grupo. E é por isso que, mesmo à sombra, está sempre ali, lendo seus aliados, conhecendo suas forças e fraquezas.
A Sociedade de Atlas é muito sobre seus protagonistas, e sobre seus segredos. Como se entrelaçam aos poderes, aos medos, aos passados. Como definem seus futuros. A trama, em si, vai se revelando aos poucos; é uma competição mágica, mas parece mais. Parece esconder alguma coisa entremeada a essa antecipação de "seis entraram, mas só cinco passam".
"O mundo, em sua maioria, era entropia e caos. Então magia era ordem, porque era controle."
O conhecimento e o poder e o que há entre eles é muito importante para a história de A Sociedade de Atlas. Esse lugar secreto que esconde tanta coisa do mundo, e que deve permanecer assim. Mas por quê, afinal, esconder o conhecimento?
Gostei muito da tradução da Karine Ribeiro. O texto é todo florido por passagens poderosas sobre conhecimento e poder, diálogos e monólogos que definem muito bem o que é um dark academia. A adatapção para o português de tudo ficou excelente.
Do começo ao fim, A Sociedade de Atlas é um livro que te coloca para questionar muita coisa. Ele não pega na sua mão e te explica as coisas, ele mostra essas coisas e deixa que você, junto aos personagens, construa uma ideia do que está se desenrolando ali. E o final! Quando ele chega, não tem como se preparar. E essa é a beleza dele.
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