Lina DC 29/07/2022CONTÊM SPOILERS“Alerta de tempestade” é o segundo livro da série “Doggerland” e tem como protagonista a detetive Karen Hornby. Como uma boa trama policial, a protagonista dessa obra vive um conflito pessoal, que a torna introspectiva, um pouco irritadiça e sem muita vontade de se conectar com as outras pessoas.
“Ela sente como se estivesse sendo rasgada ao meio, sua reação instintiva é continuar mentindo. Ninguém tem que saber, ninguém do trabalho, apenas seus amigos mais próximos. “ (p. 158)
Conforme a sinopse explica, estamos no meio da época das comemorações de final de ano, e Karen, ainda se recuperando dos acontecimentos de “Pistas Submersas” está afastada do trabalho e com a família praticamente morando em sua casa. Para uma pessoa social, isso não seria um grande problema, mas para Karen, a sensação de sufocamento só aumenta dia após dia. Então, quando Jounas Smeed, o chefe do Departamento de Investigação Criminal da Polícia Nacional de Doggerland liga para ela, Karen não hesita em aceitar o caso.
Um professor idoso é encontrado morto em uma antiga pedreira lá na região de Noorö, um povoado pequeno e isolado. O que inicialmente parece ser um infeliz acidente, logo passa a se mostrar uma situação repleta de antigos segredos e todos logo se tornam suspeitos.
Como se isso não bastasse, Karen precisa enfrentar uma parte do seu próprio passado: a família do seu pai mora em Noorö e suas raízes também são profundas. Por conta disso, a protagonista terá que avaliar em quem realmente pode confiar e se, ao investigar esse caso, não estará pondo em risco sua própria carreira.
“Karen Eiken Hornby sabia exatamente o que estava fazendo naquele dia há quase duas semanas quando fez a chamada que lhe custaria mais do que seu trabalho se a pessoa do outro lado falhasse. Agora ele está ligando de volta.” (p. 251)
Além do cenário investigativo, temos também a questão dos relacionamentos e amizades da protagonista. Karen, que não é muito aberta a amizades, acabou criando um estranho vínculo com Sigrid, a filha de Jounas e Leo Friis, um andarilho que foi apresentado no livro anterior. Temos também uma grande amiga da protagonista que pode estar correndo grande perigo...
Sigrid e Leo acabam formando um inusitado núcleo familiar para Karen. Mesmo não querendo admitir, a presença deles em sua vida traz um alívio a intensa solidão que a protagonista sofre. Karen tem uma personalidade que as vezes tende para o lado de mártir. Vemos que ela se pune constantemente pelo passado e se recusa a procurar a felicidade ou a se perdoar. É doloroso ver alguém com tanto potencial se auto-sabotando.
“Somente quando abre o nécessaire que Sigrid arrumou, espreme um pouco de pasta de dente e olha seu rosto no espelho é que as lágrimas vêm.” (p. 146)
Um dos destaques da obra é a ambientação. Todo esse frio e isolamento criam uma atmosfera sombria, propícia para uma história policial. Tudo parece mais perigoso quando colocado nesse cenário.
A construção dos personagens também é muito boa. Todos são imperfeitos, os personagens estão tentando compreender a vida, realizando erros e acertos. Existem explosões de temperamento, palavras que não deveriam ter sido ditas, mas também momentos de perdão e recomeços. É a constante da vida: tudo está sempre mudando.
Destaque também para o trabalho editorial da Faro. O cuidado na escolha da capa, a revisão, detalhes da contracapa, escolha da fonte. É um trabalho de primeira, que acrescenta muito valor ao livro.
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