fleurmoth 13/12/2023
?Palavras são como histórias, o senhor não acha??
Esme Nicoll é criada debaixo da mesa de trabalho de seu pai: um lexicógrafo do Dicionário Oxford da Língua Inglesa. Viver entre esse mundo de palavras e suas definições e citações, a faz criar amor por elas, então decide começar a coletá-las.
A princípio, a história se inicia com a personagem em sua fase infantil, com o passar, ela vai envelhecendo e é quando fica mais envolvente e de caráter visceralmente profundo: Esme nota como essas combinações de letras são importantes para, principalmente, mulheres pobres, invisíveis para a sociedade masculina com alto nível de instrução.
Eu poderia, limpidamente, fazer um discurso panegírico em exaltação a esse livro. Por meio do enredo, ele mostra como figuras femininas eram (e ainda são) descredibilizadas no meio em que vivem, socializam e trabalham; como essas foram apagadas de partes importantes da história, como foram descreditadas de seus feitos.
Essa obra me fez entender a profundidade e a necessidade de darmos importância às palavras, a nomeação de coisas, aos dialetos e tudo o que compõe a linguagem. Verbalizar torna a abstração real. Pessoas invisíveis são vistas por elas: palavras nos definem, nos humanizam, criam uma identidade para cada indivíduo de forma pessoal.
Para fechar, acho importante para quem se interessa, ler a nota da tradutora que exprime exatamente a essência do livro: ?Dicionário das palavras perdidas é uma declaração de amor à força da linguagem, ao seu poder de transmitir e moldar a realidade. Acompanhando a história das incríveis mulheres que dedicaram sua vida às palavras sem nunca terem sido reconhecidas por isso, também podemos refletir sobre o quanto de desigualdade, preconceito e injustiça as palavras que usamos carregam.?