Mr. Jonas 05/02/2018
Espumas Flutuantes
O poema ?Dedicatória?, que abre o livro Espumas Flutuantes, funciona como uma espécie de prefácio da obra. O assunto central ali é o próprio livro que, como uma pomba, lança-se ao espaço, ao encontro de seu público. O poema traz alguns dos elementos comuns da obra do autor, como as imagens grandiosas e o desejo de comunicação, o que o faz produtor de uma poesia de caráter público, mais afeita à exteriorização da praça que aos sussurros amorosos característicos da poesia da segunda geração.
Em ?Dedicatória?, essa poesia altiva resiste a intempéries (referência tanto a críticas quanto às oposições políticas que enfrentava) e avança, heroica. Por fim, o poeta pede que sua poesia, como a pomba que a metaforiza, retorne a ele trazendo um ramo de cipreste, símbolo da morte. Era uma triste lembrança da morte que, de fato, começava a tomar conta do poeta, que sofria da tuberculose que o mataria em seguida. Essa poesia repleta de notas pessoais insere-se plenamente no espírito subjetivista dos românticos.
O tom predominante no livro é o do arrebatamento, que contagia desde temas de caráter político até assuntos mais intimistas. As espumas flutuantes do título podem ser associadas aos poemas que, saídos da imaginação de seu autor, fogem ao seu controle e tomam rumos inesperados, ao mesmo tempo em que eternizam seu nome.
Os versos espalhados pelo mundo funcionam como imagem da difusão da cultura, defendida pelo poeta em um dos poemas mais emblemáticos do volume, ?O livro e a América?. Ali, o poeta faz uma exaltada defesa da cultura, concebida como arma iluminista contra todo tipo de obscurantismo (leia-se, naquele contexto, a barbárie da escravidão).
Alguns dos versos do poema ficaram famosos: ?Oh! Bendito o que semeia / Livros... livros à mão-cheia... / E manda o povo pensar! / O livro caindo n?alma / É germe - que faz a palma, / É chuva ? que faz o mar?. Nota-se no poema as marcas mais evidentes do estilo condoreiro: a tendência à expressividade retórica, o apelo exagerado às multidões, o abuso de exclamações e as imagens grandiosas.
Essa vocação da poesia de Castro Alves para a fala pública é reforçada nos poemas de caráter mais explicitamente político, como as homenagens que faz à data que, na Bahia, se associa às lutas pela Independência do Brasil: ?Ao dous de julho? e ?Ode ao dous de julho?. Mais do que a celebração de uma data específica, trata-se da apologia do sentimento de liberdade de todas as épocas.
O anseio de liberdade ganha espaço também na poesia que fala de amor, tema que assume uma conotação sensual. É o que se vê, por exemplo, em ?O gondoleiro do amor?, poema no qual o tom exagerado permanece, a despeito da temática intimista: ?Teu amor na treva é - um astro, / No silêncio uma canção, / É brisa - nas calmarias, / É abrigo - no tufão?. Mas predomina mesmo o tom erótico: ?Teu seio é vaga dourada / Ao tíbio clarão da lua, / Que, ao murmúrio das volúpias, / Arqueja, palpita, nua?.
Alguns poemas do livro tratam da própria arte poética, permitindo entrever a crença do poeta de que a poesia, mais que dom ou vocação, era um estigma a que o indivíduo simplesmente não conseguia resistir e que lhe marcava a existência.