Pablo Paz 01/08/2022
Terra em vertigem, Democracia em transe
Terra em vertigem, Democracia em transe
Se tu procuras uma síntese sobre a vida política do Brasil contemporâneo, e contemporâneo refiro-me às manifestações de junho de 2013, passando pelas eleições de 2018 até a gestão do atual presidente, este livro cumpre o que pretende. É uma coletânea de 7 ensaios, 6 já publicados em revistas cults ou acadêmicas e 1 inédito.
Os substantivos do título, 'transe' e 'vertigem', são referências a duas obras cinematográficas nacionais: 'Terra em Transe' (1967) e 'Democracia em Vertigem' (2019), obras que, segundo o autor, tratam da derrota da esquerda em dois momentos distintos: 1964 com o golpe militar e 2016 com o impedimento de Dilma Rousseff. Curiosamente, é o ensaio mais enfadonho de todos, além da comparação ser um pouco forçada já que 'Terra em Transe' é uma obra de ficção enquanto 'Democracia em Vertigem' é de não-ficção e embora ambas as obras compartilhem da mesma linguagem (audiovisual), têm objetivos distintos. Ficção é ficção e, enquanto tal, tem sua autonomia, ainda que possamos levar em conta todos os seus contextos (sociais, históricos, psíquicos etc.). Como se comparássemos bananas com maçãs só porque ambas são frutas, ao invés de compararmos bananas com bananas e maçãs com maçãs.
Os outros ensaios porém, especialmente o inédito, compensam o tom enfadadiço deste que deu título ao livro porque no geral, além da honestidade intelectual e do esforço do autor para nos alumiar o imbróglio em que nos metemos a partir daquele fatídico 13 de junho de 2013 adiante, são muito bem escritos e didáticos para qualquer universitário que não seja da área de filosofia, disciplina da qual o autor parte com seu arsenal teórico para analisar o período em questão.
A análise que ele faz do 'Batman do Leblon' no último ensaio, personagem que viralizou durante as manifestações de junho de 2013, como representativo da nossa vida política, é muito original. Como Walter Benjamin, conseguiu ver a totalidade em meio a uma ruína.
E o melhor: é curto!, dá para lê-lo num dia.