Mr.Sandman 13/02/2024
A pior morte possível
O nono volume de Chainsaw Man é brutal. O acúmulo de tudo que veio sendo construído até aqui. Diria que aqui é onde mora o ápice dessa primeira parte. O ápice emocional, pelo menos. E acaba que é um volume não focado no Denji. É um volume de outro personagem. Talvez o personagem mais sensível e que mais cresceu durante todos esses volumes da história. Esse volume é do Aki.
Vingança. O motivo do Aki viver e se sacrificar nesse emprego sofrido e imprevisível era justamente se vingar por sua família. Isso o manteve frio para não criar outra família. Se não tivesse outra família, nenhum calor humano poderia desviar a verdade de seus objetivos. O seu princípio. Porém, uma família o achou. Uma família barulhenta, irresponsável, e extremamente inconveniente... mas que trouxe para a vida do Aki uma das coisas mais importantes na vida: Espontaneidade. Himeno trazia injeções disso para ele, mesmo também sendo uma pessoa com uma série de demônios internos. Ela o amava. E ele também, mas não conseguia aproveitar por ter criado essas barreiras de frieza em si. Talvez conseguisse aproveitar no futuro, já que o futuro é demais. Mas o presente é de vingança. E a vingança era só dele. Himeno morreu e a vingança não era mais só de Aki. O peso de sua frieza, da frieza do seu trabalho, a casca estava começando a cair. Dar forma aos sentimentos sempre pareceu doloroso demais. Mas no fim ele entendeu. Nunca seria uma "easy revenge". Não agora que ele tinha uma nova família. Não agora que ele tinha novo calor. Nova vontade de viver. Por isso ele para. Por isso ele muda. E aquela cena dele esbofetando o Denji no início do relacionamento deles parece distante até demais. Aki agora sabe que existe felicidade nesse cotidiano, mesmo que fugaz, mesmo que só por alguns anos antes dos contratos cobrarem o preço, mesmo que seja só por um tempo. Ele sabe que viver amando vai lhe trazer uma resolução mais profunda do que viver odiando. O presente também pode ser demais... será?
E é aí que vem a tragédia. Não pode... não quando você não tem agência sobre suas decisões. Não quando existe um controle sobre você. Não quando a coerção te amarra com força. O controle não se importa com seus sentimentos. O controle não se importa com a história da sua vida e o que você pensa sobre ela. O controle se importa em controlar. E Aki cai nas mãos de Makima. Aki cai na tragédia projetada ao longo do tempo. Aki morre pelo controle e torna-se o alvo de sua vingança. Um infernal. Uma arma. Uma fria arma de fogo.
O conflito entre Aki Infernal e Denji é poético. Tão poético quanto o volume já estava sendo. Desde os momentos de intimidade entre a família (Denji, Power e Aki), até a emotiva conversa de Aki com Kishibe, até os flashbacks do anjo, até a revelação da verdadeira natureza de Makima e até a grande aparição do demônio das armas, o volume construiu uma chamada poética para o grande embate final. A irmandade antiga e a irmandade nova sendo morta e despedaçada pela violência. 2 ícones representando armas que causam sofrimento. Que causam medo e pavor. 2 seres que estão sendo usados e explorados por via de seus desejos, espantados pela urgência da situação, tendo uma batalha metafórica, espiritual e brutalmente física no meio de uma cidade horrorizada. Uma batalha que já nasce trágica. E no fim, a violência gera lágrimas. A morte violenta chega. E onde tudo parecia uma brincadeira, a pior morte possível finalmente aconteceu. E para alguém que antes não se importava em morrer para alguém que quis jogar tudo fora para viver com o amor de sua nova família... É algo que machuca muito.
A resolução poética de Aki vem junto com a resposta de muitas coisas. O Demônio das armas, Makima... mas nada disso tira o impacto que esse volume teve e a ressonância disso tudo para a nossa percepção de Aki como personagem dentro da história. O mundo é cruel. Ele mata a inocência e quando ela tenta se reerguer, ele a mata novamente. Não existe liberdade. Não existem anjos. Existem armas de fogo e motosserras. Power sentiu o cheiro de Aki pela última vez. Denji chorou pela primeira vez. E Aki, finalmente jogou Catchball com seu irmão.