Mari Pereira 02/08/2022Sobre a memória e suas confusões...Confesso que quando iniciei a leitura de "À beira-mar", tive certa dificuldade de engajamento. Achei a narrativa muito lenta, cansativa, apesar de gostar da forma como o narrador ia e vinha pelos assuntos, formando um caleidoscópio de suas memórias.
A dinâmica da narrativa muda, em minha opinião, com a entrada em cena do segundo narrador. É a aí que as memórias de um e outro se encontram, se entrelaçam e se chocam.
Naquele velho jeito maniqueísta de olhar o mundo, fiquei tentando descobrir quem era o vilão da história.
E foi aí que veio a grandeza do autor, o nobel Abdulrazak Gurnah. Não existem vilões e mocinhos. Existem pessoas que passaram por situações muito difíceis em suas vidas, que tiveram um passado colonial duro e marcado por inúmeras violências, e que ali, em um novo lugar, novamente à beira-mar, se reencontram.
E o reencontro é custoso, mas também é bonito. E abre um novo mundo de possibilidades para esses dois.
Um livro cheio de delicadeza, sabedoria, uma certa tristeza, mas também da esperança de poder começar de novo.
P.s.: Agora preciso muito ler o conto Bartleby, o escrivão! ??