Romance sem palavras

Romance sem palavras Carlos Heitor Cony




Resenhas - Romance sem palavras


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Rafael G. 05/03/2024

"Romance Sem Palavras" acompanha um triângulo amoroso que tem sua configuração a todo tempo modificada pela participação dos três em uma organização de resistência à ditadura militar brasileira. Uma noite, jogam na cela B 17, onde está o narrador (Beto), o corpo ainda vivo (mas reduzido a uma carne ensanguentada) de Jorge Marcos. Beto, de certa maneira, salva a vida do homem com os cuidados que lhe eram possíveis. Um laço se forma. Porém Jorge Marcos, ao fim do regime, estará casado com Iracema - mulher com quem, à altura da prisão, Beto tinha um envolvimento.

De início, me capturou a reflexão quanto às palavras que dão contornos e sentidos aos três personagens, em contrapartida às palavras que faltam - justamente aquelas capazes de criar um elo significativo. Jorge, Beto e Iracema foram unidos por circunstâncias atípicas e, ao fim do regime, quando a luta já não existia, poucas palavras restaram que pudessem ser ditas um ao outro. Todas as interações se tornaram esquisitas, permeadas por não-ditos, reservas e desconfianças - como se falassem com imagens, mas não entrassem verdadeiramente em contato.

Porém logo duas questões me afastaram do texto. Em primeiro lugar, a leitura que propõe do conflito armado é assinalada por uma "sensibilidade classe média" - que a gente sabe ser bem dada a falsas simetrias. rs Num dado momento, ao refletir sobre os crimes cometidos por parte da resistência à ditadura, Jorge Marcos compara-os aos crimes dos nazistas e sionistas, por exemplo.

Em segundo lugar, me incomodou muito um aspecto formal: as repetições. Não falo de repetições que retomam um elemento em diferença, ampliando seus sentidos. Falo da replicação de informações: durante todo o texto, talvez por conta da não-linearidade, o autor escolhe contextualizar os personagens com dados que já conhecemos à exaustão - o que tornou uma leitura de apenas 130 páginas quase que absolutamente enfadonha. No fim das contas, há diversos livros que se detém sobre o tema de maneiras muito mais interessantes.
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Marcelo 05/02/2024

Promete pouco, entrega nada.
Este livro eu achei no armário da minha mãe, li porque achei a ideia interessante, e o autor não ser famoso, mas com um certo renome.
A parte que seria interessante, não foi, q era sobre a questão política.
E o romance em si... Bem ruim.
Um final pior ainda.
Não é linear, mas até aí tudo bem, mas nem isso aproveitaram.
Não esperava muito, mas nem isso entregou.
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Toni 26/11/2018

Mais uma ficção sobre os anos de ditadura civil-militar brasileira que só não entrou na série de sugestões (vejam os destaques no perfil) porque 1) eu ainda não havia lido e 2) não tinha conhecimento de qualquer texto crítico que falasse dele, bem ou mal. Encontrei por acaso num sebo, o título me chamou a atenção e quando li a sinopse, eita!, agarrei e comprei.
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O livro foca nas vidas entre-e-pós-regime de três personagens que participaram da resistência à ditadura e formam um triângulo amoroso; dois deles, Beto (o narrador) e Jorge Marcos, se conhecem nos porões de uma prisão quando Jorge é despejado aos pés de Beto após uma sessão de tortura, e a terceira ponta, Iracema, uma estudante universitária profundamente engajada na luta clandestina. À medida que a narrativa de Beto se articula, no entanto, há um outro romance se escrevendo, aquele “sem palavras” do título, uma história não contada que só será entrevista no último capítulo do livro.
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Uma imagem atravessa, de uma ponta a outra, a extensão desta novela de Cony: o corpo nu despejado de Jorge Marcos, preso político, na cela B17, sujo de sangue, doído e sem esperança, um “troço de carne ferida que mais parecia carniça” ainda com um pedaço de fio, usado para choques elétricos, saindo da uretra. Apesar de seguirem em frente, as vidas dos três protagonistas de Romance sem palavras serão profundamente marcadas por aquele fio.
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Arrisco dizer que algumas das razões para o livro ter sido tão ignorado por quem estuda literatura e ditadura tenha a ver com certas informações equivocadas e imprecisões temporais que, por mais que não atrapalhem a narrativa, podem enfraquecê-la. Ou talvez se deva à imagem mesquinha de alguns membros da resistência (que chegam a colocar uma operação em risco ou lançar um companheiro nas mãos da polícia por ciúmes). De uma maneira ou de outra, vale sim a leitura para aprendermos como a literatura consegue transformar um fio elétrico em imagem aterrorizante e indelével.
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Paulo Sousa 25/11/2017

Romance sem palavras
Livro lido 4°/Nov//56°/2017
Título: Romance sem palavras
Autor: Carlos Heitor Cony (Brasil)
Editora: @alfaguara
Ano de lançamento: 2005
Ano desta edição: 2008
Páginas: 152
Classificação: ??????
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foi há quase quinze anos atrás que peguei para ler algo do cony pela primeira vez. o livro em questão era a coletânea de crônicas ?os anos mais antigos do passado?, onde pude, desde então sentir toda a força poética da prosa de cony, que experimentaria em livros posteriores.
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li muitos outros livros dele, tais como ?pilatos?, ?o ventre?, ?a casa do poeta trágico?, o belíssimo ?quase memória?, sempre presente em minhas periódicas releituras.
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mas meu cony preferido é ?a tarde da sua ausência?, um romance lindo, triste, nostálgico, cuja força da palavra sempre me causou o êxtase literário que todos nós, amantes dos livros, buscamos num romance. é um livro sobre perda, sobre reconstrução, ainda que de coisas que mereciam ser esquecidas para sempre. eu mesmo tenho feito algumas dessas reconstruções, mesmo sendo elas doloridas e inúteis...
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neste ?romance sem palavras?, ainda que não estejam presentes na sua totalidade a carga poética e lírica marcante do cony, é a história de um trio amoroso improvável, delineado durante os anos de chumbo da ditadura. iracema, joão marcos e beto, três militantes revolucionários, que se conheceram em momentos distintos, acabam lutando ombro a ombro pela causa das liberdades no brasil, mas que, mesmo com os infortúnios de uma vida marcada por torturas em prisões políticas, fugas teatrais, missões de sabotagem, acabam construindo uma espécie de romance às avessas. como o próprio cony define, pivôs de um falso triângulo marcado pelo amor, enganos e decepções. é cony, só que mais maduro.
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Renata 18/01/2015

O futuro não é mais como era antigamente
Leitura finalizada do desafio dos 26 livros para ler em 2015: número 21 - um livro com um ótimo primeiro parágrafo.

Romance sem palavras. Carlos Heitor Cony.

Livro curtinho e de leitura tranquila, mas nem por isso deixou de trazer uma reflexão interessante.
A história se baseia em recortes da vida de três pessoas, Beto, o narrador, Iracema e João Marcos, inicialmente padre e depois marido de Iracema.
O encontro dos três é promovido no contexto da ditadura militar, quando os militares colocam na mesma cela em que Beto estava preso o corpo torturado e quase morto de João Marcos.
A narrativa é entrecortada com recodacoes do passado que geravam reflexão e ressignificação da vida que tiveram juntos. Aliás a história fica bem recortada a esses eventos, não chegamos a conhecer o passado mais distante dos três.
Temos o mínimo necessário para compreender as questões de Beto em relação a sua vida e seu envolvimento nos acontecimentos sociais daquele período, mas também acerca dos destinos tomados por aqueles sujeitos que lutaram por ideais que se dissolveram com o tempo.
Beto, por mais superficialmente que tenha lutado na resistência à ditadura se ressente dele mesmo e de seus 'companheiros' pela vida bem acomodada ao sistema. A luta por ideais que colocava em risco a própria vida desembocou na busca por ideais outros como ganhar dinheiro, investir na bolsa, ter uma casa de frente para o mar.

Não dá para contar muito sem falar demais, mas é um bom livro.
Certamente não é o que mais gostei de Cony, Pilatos é muitíssimo mais interessante, mas ainda assim vale a leitura.
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