Nunca Vai Acontecer Aqui

Nunca Vai Acontecer Aqui Sinclair Lewis




Resenhas - Nunca vai acontecer aqui


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Thiago662 23/07/2022

#Distopia
"Nunca vai acontecer aqui"
Até que um dia acontece, talvez devido à apatia de muitos (os bons) e o cinismo de outros tantos, que apenas esperam o momento certo para mostrar o que realmente são (sem os limites e convenções impostos pela lei e pela sociedade).

"Nunca vai acontecer aqui" é uma puta reflexão sobre o surgimento do totalitarismo, construção de "mitos" ou "líderes carismáticos", conformação dos seus elementos principais (polícia política, propaganda, entre outros) e a resistência necessária que sempre surge em oposição a esses regimes. Sinclair brinca com o famoso "e se", não utilizável pela ciência História, mas sensacional na literatura. E se os Estados Unidos tivessem caminhado para o totalitarismo na década de 1930? Muitos líderes políticos flertaram com essa corrente política...

Por outro lado, é uma obra extremamente atual, o que fica claro na citação abaixo:

"Doremus Jessup, um observador muito discreto, analisando o senador Windrip de tão humilde ignorância, não conseguia explicar sua capacidade de enfeitiçar grandes audiências. O senador era rude, quase analfabeto, um mentiroso público facilmente detectável e, em suas 'ideias', quase um idiota, enquanto sua célebre religiosidade era a mesma de um vendedor ambulante de móveis de igreja e seu humor ainda mais célebre era o cinismo espertalhão característica de uma mercearia rural. Dê certo não havia nada de estimulante nas palavras factuais de seus discursos, tão pouco algo convincente em sua filosofia. Suas plataformas políticas voltavam-se apenas ao combate de inimigos imaginários. Não existia ator mais avassalador no palco, no cinema, nem no púlpito. Ele girava os braços, batia nas mesas, encarava com olhos ensandecidos, cuspia a ira bíblica da boca escancarada".

Te lembrou algum político da atualidade? Pois é! Ou as coisas não mudam ou sei lá...

Ou, a busca do inimigo a quem culpar: "Todo homem é um rei contanto que tenha alguém a quem desprezar". Não importa que você seja pobre, desde que tenha a quem culpar. Os líderes fascistas conseguem utilizar bem essa lógica, com suas promessas que aos poucos vão mudando, embora quase nunca cumpridas (culpa do nosso inimigo, claro).

O livro é uma crítica não apenas ao fascismo, mas também à passividade de certos setores da sociedade que assistem a tudo bestializados, sem indignação, sem contestação. Por focar muito na construção do regime fascista a partir da visão de um jornalista do interior, digamos assim, algumas partes são mais arrastadas. Esperei ansioso pela resistência, mas ela custa a chegar e...

Por fim, duas críticas sensacionais que Sinclair faz:
Em relação ao americano e seu complexo superior: "A maioria dos americanos aprendera na escola que Deus substituíra os judeus pelos americanos como povo escolhido, e desta vez fizera um trabalho muito melhor, de modo que era a nação mais rica, bondosa e inteligente viva". Ora, uma nação como essa pode dominar todas as outras né? Kkkkk

Em relação aqueles que defendem um modelo sem criticá-lo. As conversas entre Jessup (democrata?) e Pascal (comunista) são sensacionais. Talvez Sinclair sintetizasse a visão de muitos na década de 1930: "Temia que a luta mundial do momento não fosse contra o fascismo, mas da tolerância contra a intolerância, igualmente pregada pelo comunismo e pelo fascismo. Mas também percebia que na América a luta era obscurecida pelo fato de que os piores fascistas eram aqueles que repudiavam a palavra 'fascista' e pregavam a escravização ao capitalismo. Pois eram ladrões não apenas de salários, mas também da honra". Difícil né?

Projeto apoiado no Catarse e uma das leituras do ano!
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