Carol 13/02/2024Impressões da CarolLivro: O pequeno livro do Grande Terremoto {2005}
Autor: Rui Tavares {Portugal, 1972-}
Editora: Tinta da China Brasil
224p.
"No primeiro dia de novembro de 1755 Lisboa foi arruinada pelas forças combinadas de um sismo violentíssimo e invulgarmente longo, um maremoto que lançou ondas gigantescas sobre a costa e diversos incêndios, um dos quais consumiu todo o centro da capital portuguesa." p. 16
Lá se vai uma década desde que conheci Lisboa e, ainda hoje, me arrepio ao lembrar a visita que fiz ao "Lisboa Story Centre", no Terreiro do Paço. O museu possui uma seção dedicada inteiramente ao Grande Terremoto de 1755: o dia de todos os santos, o cismo, o maremoto, os incêndios, a cidade em ruínas, Pombal, a reconstrução, a cidade moderna.
Rui Tavares - historiador que conheci via podcast "Agora, agora e mais agora" (ouçam!) - parte deste evento singular para nos entregar um ensaio brilhante. Com uma escrita envolvente e capacidade rara de síntese, Rui nos faz refletir sobre as consequências sociais, políticas, filosóficas, religiosas, científicas e urbanísticas da catástrofe.
Mais do que isso. Você se pega meditando sobre a História - com H maiúsculo - e as infindáveis histórias cotidianas. Você se indaga, qual a percepção coletiva dos dias que abalam o mundo? "Terá a história esquinas ou cotovelos?" p. 14
Os capítulos são saborosos. O exercício de imaginar Lisboa, se o Terremoto não houvesse ocorrido. A figura do Marquês de Pombal, o autêntico déspota esclarecido lisboeta. Os relatos dos sobreviventes. Os folhetos e as ilustrações equevas. E, meu grande destaque: a rixa filosófica entre Voltaire - venenosíssimo - e o jovem Rousseau, ainda ansiando pela fama.
"É de longe mais frequente defender-se que a catástrofe deve de fato levar a uma profundíssima revisão de consciência- por parte dos outros. Assim, também em 1755 a maior parte dos testemunhos e reflexões pessoais viu no Terremoto a confirmação das suas convicções de sempre.
(...)
Em suma: não só as pessoas, em geral, não abdicaram das suas convicções anteriores como, pelo contrário, identificaram na catástrofe o sinal da refutação e falência das ideias adversárias." p. 17
Livraço!