giovana 21/09/2020
então...
se preparem que essa vai ser longa.
assim como literalmente milhões de pessoas, eu cresci com harry potter. eu e a minha mãe somos muitos fãs. minha mãe comprou o primeiro harry assim que saiu e esperou cada ano pra que o novo fosse lançado. assim que eu aprendi a ler, eu li harry potter. por muito tempo a rowling foi tanto minha autora preferida quanto a da minha mãe.
em 2013 saiu a notícia que a rowling tinha começado essa série de detetive sob um pseudônimo. eu e a minha mãe ficamos muito animadas; ela comprou a edição capa dura a e a gente leu juntas (ela marcava a página que ela tava, às vezes desmarcando a minha sem querer. era até engraçado). eu tinha mais ou menos uns 12/13 anos e me apaixonei pelo strike e pela robin. eu amei aquele mundo na denmark street.
cada ano eu esperava por mais histórias do cormoran strike. quando saiu lethal white em 2018 (a resenha que eu fiz ainda ta aqui) eu amei tanto que falei ser meu livro preferido. a robin é uma das minhas personagens fictícias preferidas e eu amo ela real. e eu amo a possibilidade do romance strike/robin.
(eu odeio ser tão investida assim nesses personagens fictícios, mas é verdade. eu era apenas uma pré-adolescente quando li os primeiros da série também. e os livros me acompanharam dessa fase da minha vida até a vida adulta. então tem um valor sentimental, sabe?).
bom como todos sabemos a rowling se mostrou uma transfóbica. eu, como milhões de pessoas (de novo) não soubemos como lidar em relação aos mundos fictícios que ela trinha construído e nós (eu) amávamos tanto.
eu sabia que esse livro tava vindo e eu queria muito ler. eu precisava saber o quue ia acontecer com a robin, com o strike, qual seria o próximo caso que eles iam desvendar (se ele iam ficar juntos...). depois de muito debater comigo mesma, eu decidi que a autora estava morta (quem pegou a referência pegou) e eu ia torar do livro as minhas próprias conclusões e apreciar a obra desvinculando-a da rowling.
porém, a mulher me escreve um livro que gira em torno de um assassino que, no péssimo jargão q ela usa em inglês ?cross-dresses? pra 1) atrair suas vítimas mulheres, ganhando a confiança delas e 2) porque ele gosta.
sim, isso mesmo que você leu.
o assassino (que no final nem é o assassino do caso principal. dando esse spoiler mesmo porque não quero que ninguém sinta vontade de ler isso) é um estranho, uma pessoa que não se encaixa na sociedade, um marginalizado que deveria ?apodrecer na prisão? (fala do strike) porque ele gosta de se ?vestir de mulher?.
isso por si só é extremamente problemático. o por ainda é o fato de que ele se vestir de mulher não foi fato essencial pra nenhum dos assassinatos dele. ou seja: característica completamente desnecessária no personagem do creed (acho que seria pior ainda se fosse necessário, mas enfim, errado que qualquer jeito).
a rowling sabe muito bem das teorias literárias de representação e o fato de tu relacionar pessoas trans com assassinos é simplesmente errado e glorifica ideais cristãos conservadores (é só dar uma pesquisada nos filmes slasher dos anos 70 que vocês vão ver como eles perpetuavam a ideia de que sexo antes do casamento = pecado; logo, essas pessoas merecem a morte violenta que ttem nos filmes).
o livro também tem várias partes que a rowling perpetua ideias imperialistas e debocha qualquer tipo de confronto ao status-quo (ao relacionar ideias revolucionárias coma mãe do strike, uma personagem irresponsável e impossível de gostar, o que automaticamente te faz debochar dessas ideias e achá-las erradas). ah, também tem uma parte que o strike faz umas críticas ao feminismo liberal. isso seria muito interessante, pois essa vertente merece críticas, mas pelas críticas virem da ?boca? de um homem parece simplesmente invalidar qualquer vertente do movimento.
como se isso não bastasse, eu ainda tive que ver a rowling destruindo tanto o strike quanto a robin. e doeu muito ver ela fazendo isso com a robin. como eu já falei, a robin é (porque eu me recuso a aceitar a robin desse quinto livro) uma das minhas personagens fictícias preferidas da vida.
basicamente a robin virou desconfiada e ciumenta. o strike só virou um brutamontes. eu queria falar mais sobre isso, mas gastei minha raiva na sessão anterior.
ah, e tem muitos momentos de inconsistência de personagem. não, a robin dos 4 primeiros livros não ficaria pensando tanto assim na charlotte. não, o strike dos 4 primeiros livros não seria um babaca tão grande, mesmo sob pressão emocional da tia dele morrendo.
E O QUE FOI AQUILO COM O NICK E A ILSA????? eu penso na rowling pensando hmmm como eu poderia criar uma NOVA TENSÃO??? porque o fato da ilsa ter perdido o bebê NEM é MENCIONADO DEPOIS. e cria uma comoção TÃO GRANDE e POR TANTAS PÁGINAS que simplesmente NÃO FAZ SENTIDO isso ter acontecido. dispositivo literário barato.
e esse não é o único momento que um dispositivo literário barato assim é usado. é em muitos. eu enttenderia isso numa ffanfic escrijta por alguém de sla 10/12 anos (com todo respeito a essas fanfics, é isso que faz muitos jovens entrarem na literatura e eu apoio super. mas são básicas ne) mas não de uma mulher com mais de 20 anos de carreira.
mas fazer o que.
a rowling escolhe ser ignorante e básica. o que se mostra claramente aqui. o jeito que ela encaixa personagens lgbt também só pra mostarar ?olha como eu sou uma aliada!!? é nojento.
por último eu só queria falar que a revelação que tudo foi a janice poderia ter sido tão boa, mas não foi bem trabalhada. faltou uma edição no livro. faltou cortar uma frases soltas, umas cenas nada a ver e umas coisas nada a ver (uma gordofobia básica com uma pessoa descendo a escada de um hotel, por exemplo). mas parece que a rowling só vomitou uma ideia bruta e falou ta pronto!!!! 945 páginas e não podia ser melhor!! (antes que me xinguuem falando que eu sou jovem e só ?não tenho paciência? pra livros grandes, eu li IT e amei. é um dos meus preferidos. 1147 páginas, se não me engano).
conclusão: esse livro é uma conclusão. é a rowling tentanto mostrar que ela se encaixa num mundo contemporâneo no qual ela na verdade não se encaixa. uma tentativa desesperada de tentar sei la, ser alguém? eu não sei. só sei que doeu ver a personalidade do strike e da robin ser deturpada desse jeito. e presenciar, em primeira mão, a visão do mundo da rowling. eu fico muito triste com isso, pois como eu já disse, eu sou emocionalmente investida nesses personagens.
é isto. eu tenho mais coisa pra falar, mas não sei como encaixar aqui. esse livro poderia ter sido editado e se tornado muito bom. mas pra isso, ele teria que ser escrijto por outra pessoa.