Aisha Andris @AishandoBooks 02/06/2020
Uma linda história de amor com mocinhos de classes diferentes
“Os Cadernos da Filha do Barão” nos traz a história de Eris Murray, a melhor amiga de Lara, protagonista do livro anterior. A jovem lady não tem o apreço das senhoritas da sua classe pelos bailes e eventos sociais, nem um grande desejo de contrair matrimônio, ainda que saiba que, eventualmente, isso lhe será cobrado. O maior prazer dela está na escrita de seus diários, onde faz observações bem-humoradas, irônicas e muito sinceras sobre as pessoas que a rodeiam, sendo elas próximas ou nem tanto assim. Até aí, tudo bem; o problema começa quando perde um de seus cadernos em um baile e, logo em seguida, escritos seus começam a aparecer num jornal londrino de grande circulação. Obviamente, Eris não fica feliz em ter seus textos – secretos – roubados dessa forma, por isso começa uma investigação para descobrir a identidade do misterioso larápio, o que não demora muito a acontecer.
Harvey Prescott é um homem que nunca teve medo do trabalho duro e, com muito esforço, conseguiu se estabelecer numa boa posição como advogado, o que lhe permite uma vida razoavelmente confortável, ainda que não abastada como a da aristocracia. Seu maior problema é o irmão caçula, que vive dando-lhe dor de cabeça ao envolver-se com jogos e prostitutas, contraindo dívidas que não tem a menor condição de pagar. Aí para quem acaba sobrando o pato? Isso mesmo: para ele! No entanto, a sorte começa a lhe sorrir quando encontra um caderninho perdido, recheado de textos que o prendem desde o primeiro parágrafo. Tudo poderia ficar como um delicioso passatempo, se o casal de melhores amigos de Harvey, dono de jornal, não se mostrasse tão interessado nos escritos e, o melhor de tudo, disposto a pagar uma soma razoável de dinheiro por eles. Dinheiro mais do que bem-vindo nesse momento difícil, em que precisa saldar os débitos do irmão antes que perca os dentes ou coisa pior para os cobradores. Só que a verdadeira dona do caderninho não tarda a bater à sua porta em busca do que lhe pertence…
Pode não parecer, mas mesmo se aproveitando do “tesouro literário” de outra pessoa – apenas por desespero, que isso fique bem claro –, Harvey é um homem honesto, por isso sente-se na obrigação de devolver o bendito caderninho, por mais custoso que isso lhe possa ser. Isso não significa que seja justo com o mundo um talento tão especial como o de Eris ser “desperdiçado”, enquanto ela mantém seus textos apenas para si, portanto, quando seus amigos mostram o desejo de continuar a publicação dos escritos, ele dá um jeito de convencer a lady a prosseguir mandando-os para eles. E assim, Harvey e Eris acabam mantendo contato e, aos poucos, descobrindo que sentem-se muito bem na companhia um do outro, apesar de viverem em mundos completamente diferentes. Já o que acontece a partir daí, terão que ler para descobrir.
Eu gostei muito desta história porque ela foge ao usual, trazendo uma mocinha aristocrata e um mocinho da classe trabalhadora. É bem comum vermos mocinhas que levam vidas mais humildes ascenderem socialmente ao casarem-se com um lorde, mas o contrário é bem raro, afinal, naquela época, para casar-se com alguém abaixo de sua classe, as mulheres tinham que abrir mão de inúmeros privilégios (a única outra personagem que me lembro de ver fazendo isso foi a Diana Highwood, protagonista de “A Bela e o Ferreiro”, conto da série Spindle Cove, escrita pela Tessa Dare). Adorei a forma como isso foi abordado aqui, sobretudo nos capítulos finais do livro. Terminei a leitura com o coração aquecido.
Eu já era fã da escrita da Lygia, super fluida e agradável, o que se manteve aqui, mesmo com o desafio adicional de escrever os textos da Eris, por isso ela merece os parabéns. Minha única reclamação (que não é segredo pra Lygia e, talvez, seja algo com o qual apenas eu me importe) é que senti falta de ler os primeiros escritos da Eris, aqueles que despertaram o interesse de Harvey. Mas tirando esse detalhe, gostei de tudo e super recomendo a leitura. Não se arrependerão de dar uma chance ao livro, a única tristeza será esperar os próximos volumes, que contarão a história de personagens secundários pelos quais, tenho certeza, vocês se apaixonarão tanto quanto eu.
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