O pacto da branquitude

O pacto da branquitude Cida Bento




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Ju Correia 28/04/2024

Tem sangue retinto pisado atrás do herói emoldurado
'O pacto da branquitude' da autora Cida Bento é um livro que convida todos nós a uma reflexão mais profunda sobre o que significa ser branco nesse país. Por que o que significa ser branco e não o que significa ser negro? Porque os negros desde que nascem já sabem o que é ser negro no Brasil. Desde a sua primeira infância até o último respiro, o povo negro já sabe o que significa ter a pele mais escura.
No seu livro Cida convida a reflexão do porque pessoas brancas nunca precisam pensar em raça. Por que elas não precisam se reafirmar e autoarfimar brancas? Por que raça para elas nunca foi uma questão? Por que são elas que sempre levantam as bandeiras "só existe uma raça: a humana" "raça não importa, somos todos iguais?" Isso tudo é proveniente de uma problemática que a autora vai abordar como o "pacto narcísico", ou seja, a tendência que as pessoas brancas têm de se enxergar como o "normal" o "universal". No geral todo mundo é branco, quem é negro que é diferente.
É a partir daí que a autora vai falar sobre o que é esse pacto da branquitude que permeia e corre nas veias do nosso país desde a invasão das nossas terras. Ela diz:
"É evidente que os brancos não promovem reuniões secretas às cinco da manhã para definir como vão manter seus privilégios e excluir os negros. Mas é como se assim fosse: as formas de exclusão e de manutenção de privilégios nos mais diferentes tipos de instituições são similares e sistematicamente negadas ou silenciadas. Esse pacto da branquitude possui um componente narcísico, de autopreservação, como se o "diferente" ameaçasse o "normal", o "universal".
Esse debate é essencial para pensarmos -enquanto pessoas negras- como o pacto da branquitude está em absolutamente tudo ao nosso redor. É a empatia dos brancos uns com os outros. É a necessidade que eles têm de ajudar um ao outro a vencer. É o branco do rh contratando outros brancos porque eles são "mais qualificados". É o branco diretor de elenco na tv que concede aos atores e atrizes brancos as melhores oportunidades. São tantas as coisas que se fôssemos citar uma por uma, não haveria léxico suficiente no mundo.
É muito fácil falar das marcas e consequências que os períodos de escravidão e exploração deixaram no povo negro. Mas existe um povo especifico que ainda hoje está lucrando e se beneficiando das coisas que ocorreram lá naquela época, e jamais, sequer cogitam reconhecer que os privilégios que têm são também herança do tempo escravista, herança de um tempo em que seus antepassados exploravam os "iguais". Eles irão dizer que não tem nada a ver com isso, que uma coisa não tem conexão com a outra, como se esse grupo branco não fizesse parte desse passado e não trouxesse nenhuma herança dele.
Esse livro é um convite a pensar as amarras do nosso país. É um convite às pessoas negras a entenderem os pormenores desse pacto desenhado lá atrás que funciona tão bem até hoje. É um convite às pessoas brancas a se entenderem como brancas, e entenderem o que significa serem brancas nesse país.
É uma leitura que vale à pena, e o tempo. Leitura que recomendo ser feita com calma, com um marcador de texto e uma garrafa de água. É daquelas leituras que nos revira o estômago por nos fazer pensar em tudo que a gente já sabe, mas de maneira visceral. É a leitura que nos leva ao passado, ao presente, e infelizmente ao futuro. Cida Bento escreveu esse livro e iniciou sua pesquisa ao perceber que por mais qualificada que fosse, nunca era contratada para os trabalhos aos quais se candidatava. E isso tinha uma razão. Nesse país onde a supremacia branca ainda caminha pelas ruas como se nada fosse, tudo tem uma razão.
Termino com essa citação de Sueli, uma trabalhadora doméstica que falou sobre a sua vivência das relações raciais no cotidiano de trabalho, e foi a responsável pelo título da dissertação de Cida:
"É a imagem da minha bisavó no tronco [...] eu não estou brigando hoje, eu estou praticamente vingando a minha bisavó, você entende? Quanto a isso não tenho nem dúvida, minha luta é essa."
IgorHenrique93 28/04/2024minha estante
Mas realmente, cientificamente só tem uma raça, a humana. O conceito que usa para diferenciar os povos é Etnia.




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