Ronaldo Thomé 29/09/2023
URRANDO NOS POLIEDROS DA JUSTIÇA
Fenomenal! Roberto Piva foi uma descoberta, lá na minha adolescência, há quase 20 anos, enquanto eu assistia o antigo programa Entre Linhas, na TV Cultura. De cara, fui arrebatado por aquelas poesias insanas e sonhadoras, que não se pareciam com nada do que eu conhecia.
Piva tem enorme influência da literatura beatnik e do surrealismo; sua poesia é transgressora, libertária e anárquica. Em seus primeiros livros, vemos que seus textos se parecem quase com experiências xamânicas, visões, devaneios e pesadelos. O autor mistura o real e o imaginário de forma impressionante, quase como se ele realmente estivesse vivendo aqueles transes. Sua poesia nessa época é profundamente urbana, evocando imagens e ambientes que sugerem o caos e a febre da noite de São Paulo.
Elementos como a sexualidade, a embriaguez, a luta contra o poder dominante e a arte como meio de catarse, em relação à vida (Piva tem influência de vários filósofos, entre eles Nietzsche).
Piva (assim como Ana C. César) proporciona inúmeros significados, ainda que seu texto não seja denso ou cansativo. Em muitos momentos, ele se posiciona como se fosse um louco, berrando a plenos pulmões no meio das avenidas da metrópole; em outros é intimista, celebrando o desejo sexual proibido, para depois mandar às favas a moral e bons costumes.
Definitivamente, um retrato marginal, fantasioso e atemporal do surrealismo na poesia (ainda que fora de sua época), Piva é um dos melhores poetas do país, e a partir de agora, mais um dos meus favoritos da vida!
Em tempo: o primeiro livro de Piva (Paranoia) completa 60 ANOS em 2023! Parabéns, Piva\o/
Indicado para: quem quer conhecer a poesia surrealista, com influências do xamanismo e misticismo e, ainda assim, cética e desvairada.
Nota: outro livro que merece MUITO mais que 10,0!
Dica: leia ouvindo Meeting of the Spirits, da Mahavishnu Orchestra!