Dulcinea2 16/06/2024
"Que o rio cuidasse de sua cria"
Em Salvar o Fogo, Itamar Vieira Junior, volta a contar a história de um local, agora o Recôncavo Baiano, através de uma família. Aqui, uma narrativa de várias vozes, acompanhamos a história de Luzia, uma jovem que é perseguida numa comunidade que desenvolveu ao redor do mosteiro onde Luzia trabalha como lavadeira. Ali ela vive com o irmão Mundinho, que ela cria com extrema rigidez e seu pai, um alcoólotra.
A partir da trama acima, Vieira vai mesclado problemas da terra, o controle da religião, a violência contra os povos através de uma estrutura que não os permite ascender.
Mas enquanto em Torto Arado, a narrativa parecia fresca, aqui o autor vai usando do mesmo processo de narrativa e falando de assuntos muito parecidos, o que torna a obra, às vezes, um requento da anterior.
Aqui estamos focados numa comunidade que tem fortes influências da cultura indígena e africana, mas com a presença da igreja católica e como ela controla essa comunidade. Nesse assunto, Itamar consegue desenvolver novas e boas ideias.
Além disso, a personagem Luzia é muito bem construída, através da violência do seu passado e do seu presente, trabalhando pela família, mas vendo os irmãos partir para melhores destinos, enquanto ela fica só nessa comunidade que a menospreza por ser diferente.
Não tem o frescor de Torto Arado, mas é um romance bem construído, e que vale a pena ser lido.