Iara
05/02/2024Todo brasileiro devia ler esse livro. Ele expressa não só a história de uma família, mas a história do nosso país. A herança afro, indígena, e o violento processo de colonização e miscigenação. É uma obra que traz tantas questões que sei que vou levar um bom tempo ainda a processar. Amei a forma como foi escrito, divido em quatro partes, alternando por pontos de vistas e momentos. Senti como uma leitura super fluída, por camadas, sempre me permitindo descobrir mais e mais conforme avançava. Achei muito forte a questão da ancestralidade e do passado, se intercruzando com o presente em gerações. O povo de Tapeira, manipulado pela igreja, adorava apontar em Luzia ?O Mal?. Mas afinal de contas, onde está o mal? Super relevante as críticas à igreja e ao poder, que é branco e masculino. Interessante o contraste da fé católica com a ?magia maldita?, praticada às escondidas na urgência quando nenhum outro meio resolvia o problema. Quando Luzia faltou com respeito a tradição ancestral, teve consequências, que foram reparadas quando Moisés decidiu questionar a violência sofrida na infância. Fala muito sobre família, sobre as limitações que temos por uma bagagem de traumas, e a potência em perdoar - a si e ao outro. A questão da luta pela terra também muito bem colocada, a raiz de uns, e o dinheiro de outros gerando um conflito, repetindo uma história de invasão e resistência. O final foi lindo demais, extremamente satisfatório. Está entre os meus livros favoritos. Simplesmente uma obra de arte da literatura brasileira contemporânea.