Resenhas - Ifigênia

Carolina 20/02/2024

Releitura cristã de Ifigênia
Reinterpretação do drama da virgem sacrificada para aplacar a ira dos deuses. Através do personagem Nestor é feita crítica ao sistema sacrificial e é apresentado um novo ponto de vista da divindade - que dessa forma, não mais se agrada do sacrifício, mas sim da misericórdia.

Gostei do texto e recomendo a leitura.

No mais, o que me levou a lê-lo, foram comentários de René Girard no livro ?A rota antiga dos homens perversos?. Achei interessante que da mesma forma que Girard descreve o mecanismo vitimário em seu livro, ele aparece aqui (conquanto tenha um final diferente da história original).

IFIGÊNIA (a vítima inocente) tenta se defender (da mesma forma que Jó):

Mas se em minha alma, cândida e singela,
Tem domicílio amável a inocência,
Não consinta que eu seja cruelmente
Triste holocausto às aras consagrado.
Jamais interior conhecimento
Me acusou de maldade cometida
Contra ti?

CALCANTE (o perseguidor) tenta silenciá-la (da mesma forma que os ?amigos? de Jó):

Cala. A vã fatuidade
De um desvanecimento temerário
Não macule a pureza da tua alma.
Humilde e resignada te oferece
À vontade do Céu.
Não te atrevas
Os celestes arcanos penetrar,
Não formes o mais leve raciocínio
Sobre o que manda o Céu. Atenta e humilde,
Em profundo silêncio respeitoso,
Seus decretos altíssimos adora.
E com limpa tenção, pura e inocente,
Ao sacrifício augusto te consagra.

O bacana é que está tudo aí:
- a vítima inocente;
- o perseguidor que diz fazer a vontade de deus;
- (a defesa da vítima - como Jó);
- a tentativa de silenciá-la;
- faltou a resignação da vítima (e talvez por isso mesmo a história tenha um final diferente, como em Jó).

Nestor é o personagem que em sua sabedoria consegue se manter fora do padrão mimético (que é por ele entendido como fanatismo religioso). Excelente.

Eduardo.Weiland 03/06/2023

Uma grata surpresa
Nunca fui muito fã da mitologia grega (ou de qualquer outra mitologia). Lembro alguma coisa da época de escola, em que eu precisava ler ou estudar sobre isso. Mas nunca foi algo que eu escolhi ler e muito menos gostei de ler.

Ainda não li as obras de Eurípides que vieram no mesmo box, então não tenho nada com o que comparar. Talvez seja o fato desta obra ser menor (tem apenas 90 páginas), ou algum outro aspecto na forma de escrita dos versos, mas eu sinceramente gostei dessa leitura. É agradável, fluida e de fácil entendimento. Muito diferente (e melhor) do que eu esperava. Enfim, uma grata surpresa.

Mateus.Silva 27/03/2023

Ifigênia
Ainda não li as peças de Eurípides de Ifigênia para ter um comparativo, mas gostei bastante desse texto, a leitura foi tranquila e a trama se desenvolve bem rápido.

Cristiane 14/04/2023

Dei 3 estrelas porque não consegui absorver muita coisa dessa obra.

Acredito que não foi o momento certo para a leitura.

Pk_Affonso1408 22/05/2023

Uma nova roupagem para um clássico grego ??
Francisco Dias Gomes faz nessa obra uma expendida adaptação da obra original de Eurípides ( a qual ainda não li, mas tenho conhecimento), com um tom contemporâneo o autor usa da oposição ao fanatismo religioso para nos mostrar o quão nefasto é a ideia do sacrifício humano aos deuses para ganhar glórias em vida.

Muitas emoções são demonstradas com os personagens, o amor inesgotável de Clitemnestra, o temor de Agamêmnon, a força e pureza de Ifigênia, o heroísmo inabalável de Aquiles, etc...

Sem dúvidas vale muito a pena a leitura dessa obra.

Everton Gonçalves 02/06/2023

Inspirado em Eurípides o autor faz uma releitura da tragédia de Ifigênia e Agamêmnon.
É bem mais leve de ler do que o clássico grego e traz as marcas do iluminismo. Apesar de "imitar" o clássico ele se distancia de temas com caráter religioso dos deuses gregos, inclusive criticando o fanatismo religioso em busca de temas mais humanistas. Consegue inclusive trazer um desfecho feliz para uma tragédia grega. Vale a pena a leitura, embora o autor seja bem pouco conhecido.

Trindade 04/06/2023

E rápido e direto
É um texto legal e bem direto. Não tem nada de surpreendente, mas dentro da proposta a que se propõe é bem competente.

Zenaildo 24/09/2023

Ifigênia
Mais um de Ifigênia que leio! Muito bom.. trás a questão sentimental do rei ao mandar matar sua filha para salvar o exército. Dilema entre o poder e a família.. (isso para quem leu as histórias) bem interessante. Recomendo

GabrielMacambira 10/02/2024

"Que as súplicas humildes de sincera,
Que cânticos devotos e inocentes,
Que o mais nobre exercício das virtudes
Sejam os verdadeiros sacrifícios
Que mais ao Céu agradam, firmemente
Assenta meu ânimo ilustrado
Pela Luz da razão, que de Deus mana."

Bárbara 09/06/2024

Alegoria político-social através de um mito grego
A versão da história de Ifigênia de Francisco Dias Gomes é uma releitura dos eventos ocorridos na peça Ifigênia em Áulide, de Eurípides, com um desfecho esperançoso para virgem.
Aqui, o autor reconta a clássica história grega como uma alegoria para problemas políticos e religiosos de sua época. Calcante, figura ilustre da Ilíada e diversas outras obras das religiões helênicas, representa o líder religioso que utiliza seu status santo e crença popular para manipular as massas e ascender em posições de poder, cometendo atrocidades em nome do divino para cumprir seus objetivos (o plano de assassinar seu opositor Nestor, destituir Agamemnon de seu trono ao fragilizá-lo com o sacrifício da filha e manchar a reputação de Aquiles, tirando-o como um louco). O paralelo com a realidade portuguesa, e consequentemente cristã, é evidente e, infelizmente, a problemática permanece atual.
Dias Gomes critica no drama a Igreja (ênfase em Igreja, e não religião, já que o discurso final de Nestor deixa claro que a personagem acreditava na justiça divina e alega que as ações de Calcante seria um ultraje ao Céu que protege e ampara) e o fanatismo cego de seus fiéis e líderes. Neste ponto, me lembrei bastante das críticas de seu contemporâneo Voltaire em Cândido.
Gostei bastante do desenrolar da história e a nova visão proposta pelo autor em um conto tão antigo, mas fiquei decepcionada com o final da peça. Nestor consegue convencer os seguidores de Calcante com meia dúzia de palavras e o conflito se encerra com ele sendo exaltado por todos. Não temos o desfecho do que acontece com o profeta após os eventos e nem a opinião das outras personagens importantes na peça (Aquiles, Agamemnon, Clitemnestra e até mesmo a própria Ifigênia. Deu a impressão de que a obra está incompleta.
Porém, foi uma leitura divertida e rápida. A linguagem, mesmo sendo antiga, é acessível e flui bem.

Sol 62 31/03/2023

Ifigênia do poeta português Francisco Dias Gomes, foi publicada postumamente compondo suas Obras Poéticas.

Sua obra é baseada na tragédia grega de Eurípedes, de mesmo nome, no entanto Francisco Dias Gomes, se afasta do modelo de Euripedes por dialogar com a realidade cotidiana do seu tempo.

Dessa forma, o sacrifício de Ifigênia seria uma tramoia de um personagem religioso (Calcante) como parte de um projeto de poder. A questão do fanatismo religioso perpassa a obra. Diferentemente da Tragédia Grega de Eurípides, a obra de Francisco Dias Gomes possui um final feliz.

Nicolas27 15/04/2023

Gostei mais dessa leitura do que a do próprio Eurípedes, pareceu mais fluida, apesar de eu apresentar a mesma dificuldade em compreender os mitos gregos. Além disso, gostaria de adicionar um ponto, se prestar atenção ao texto, conseguimos notar algumas diferenças entre o escritor português e o escritor grego, uma diferença é a influência do período em que viveram transmitidos nas "entrelinhas" dos textos, as críticas sociais, religiosas, cada uma voltada para sua sociedade com muito êxito, principalmente para o autor português que dá muita ênfase na representação do fanatismo religioso, alterando a obra original de Eurípedes conforme seu objetivo (devo ressalvar que essas alterações, modificações, adições e etc não desvalorizam a obra de Gomes em relação ao Eurípedes, pelo contrário, torna-a uma obra única assim como a do autor grego).

Bianca (@fallandfox) 08/09/2023

A base dessa peça é a historia e o fanatismo religioso e nos podemos observar as reações os personagens.
Sarcasticamente Ifigênia é a que nos temos menos falas e presença na historia, aparecendo no inicio e no final.
Foi bem curta e interessante e tive mais uma vez uma boa experiência com os livros extras do clube de literatura clássica.