F. C. Gonçalves 11/01/2018
O interessante debate de mais de meio século
O livro de C.P. Snow é dividido em duas partes: a primeira, com o texto integral de sua palestra "As Duas Culturas" e a segunda, onde faz um apanhado geral das críticas e revisões contextuais de sua fala.
O argumento central é que, de modo geral, cientistas e intelectuais (aqui, restritos aos membros de nossa atual cultura humanística) não dialogam e pouco sabem sobre as descobertas e discussões relativas às áreas que são vistas (até hoje) como sendo opostas uma a outra. Essa oposição e visão distorcida - para não dizer curta, pequena - cria problemas de ordem educacional, política e até mesmo no ambiente acadêmico. Cientistas não pensam nas implicações sociais ou culturais do conhecimento por eles gerado, enquanto intelectuais não discutem e nem tratam com relevância o conhecimento científico.
Snow ainda argumenta que essa falta de diálogo é responsável por problemas como a pobreza e a desnutrição e que para melhorar a situação dos habitantes de países mais pobres, será necessário mudar o fosso entre as duas culturas.
Apesar de curto (pouco mais de 100 páginas), o texto traz reflexões profundas acerca do papel da cultura científica na educação e na formação do cidadãodo futuro. Somos um mundo amplamente dependente de tecnologia e enquanto o diálogo não ocorrer, venderemos a ideia de que existem pessoas de exatas e de humanas (Snow previu o surgimento da terceira cultura, que englobaria cientistas sociais, médicos e biólogos) e as áreas não tem perspectivas nem aplicações afins.