spoiler visualizarBeatriz Santos 28/09/2023
Girls Like Girls - [3/5]
Confesso que fiquei bem decepcionada com esse livro, a sinopse e a capa mega fofa prometem um romance fofo entre duas garotas, porém o enredo passa bem longe dessa simplicidade romântica prometida. O foco do livro não é romance rápido e turbulento entre as meninas, mas o processo de autoconhecimento e aceitação do luto da Coley por causa da perda da mãe de um modo tão trágico.
O romance acaba sendo um pano de fundo para esse processo da Coley, as dúvidas e os medos da Sonya sobre a própria sexualidade abriram as feridas mais antigas da Coley em relação a sua confiança em si mesma e no medo de nunca ser amada por ninguém. Sonya é uma personagem complexa, presa em uma redoma de vidro obedecendo cegamente as ordens da mãe sem questionar nada, mantendo relações superficiais pelo receio de não ser aceita pelo que realmente é.
O romance é tão secundário que na metade do livro a Sonya praticamente some da narrativa e temos apenas relatos de sua experiência no acampamento de dança por e-mails não enviados e blogs privados. Acompanhamos as duas personagens evoluindo como pessoas, superando o luto da perda, acordando para a realidade e descobrindo que amar não é um pecado. Basicamente é sobre conhecimento pessoal e aceitação.
Resumindo, o livro não é um romance bobo, trata de duas garotas ótimas que se gostam, mas se machucam por não conseguirem lidar com os dilemas pessoas de ambas, possuindo uma carga dramática bem intensa sendo descontruída pela narrativa e pela escrita fluida da autora.
A relação da Coley e do pai dela foi o auge da narrativa trazendo uma construção familiar muito linda, quando finalmente ela abriu espaço e reconheceu que apesar de tudo ele estava dando o máximo para ser um bom pai tudo evoluiu, o luto tinha fechado os olhos dela para as pessoas que a amavam de verdade.
A falta de aprofundamento em alguns temas que foram apresentadas na narrativa me incomodou muito, não tivemos um aprofundamento no relacionamento abusivo que a Sonya vivia tanto com o ex-namorado quanto com a mãe que controla todos os passos da filha. Trenton é extremamente agressivo em todas as cenas que aparece, mas em nenhum momento ele foi repreendido seriamente por sua atitude, sendo tratado apenas como algo natural de sua personalidade. As amizades dela eram tão superficiais que era doloroso acompanhar a Sonya se manter nesse círculo infinito e vicioso de pessoas tão falsas, ela só assumia a sua verdadeira personalidade quando estava com a Coley.
Outro ponto que me incomodou foi o modo como o final em aberto da narrativa foi efetuado, elas finalmente conversam depois de várias semanas separadas, mas apesar da Sonya se desculpar e assumir - finalmente - que ama a Coley e que está disposta a lutar por esse amor, não temos certeza com o final em aberto simplório se ela realmente vai cumprir o que falou ou se vai acabar desistindo por medo de ser julgada pela família e pelos vizinhos.
Foi uma leitura agradável, mas fiquei com um gostinho de quero mais, talvez mais algumas páginas de desenvolvimento teria transformando esse livro em ícone que nem a música que leva o mesmo nome.