Resenhas - Ciência Política O aprendizado fiel

Hélio 24/08/2023

Ciência Política - O aprendizado fiel
Uma excelente publicação da editora cultura cristã. O autor fala da importância da Ciência Política para os cristãos. O cientista político Cale Horne mostra como essa disciplina acadêmica pode ser usada como instrumento da graça comum, quando nos envolvemos nas relações com o próximo. Se muitos cristãos dessem importância a essa disciplina não entrariam pelo caminho do fanatismo político.

Trechos:
"Apesar de suas diferenças radicais, todos esses movimentos têm pelo menos dois aspectos em comum. Primeiro, os adeptos dão preferência às interpretações políticas de seus líderes ungidos, em vez do estudo cuidadoso de acadêmicos profissionais, o que, na melhor das hipóteses, é considerado irrelevante. Segundo, e mais fundamentalmente, esses movimentos refletem um desconforto comum com o quão pouco a Bíblia realmente diz sobre política. Em vez de revelar a história maior da redenção do povo de Deus, as Escrituras se tornam um modelo para a ação (em) política ? algo para o qual elas nunca foram designadas. De fato, reinterpretar as Escrituras para reforçar as discussões políticas de uma pessoa, além de não ser exegeticamente saudável, é um sacrilégio. Como ousamos ?torcer? a Palavra de Deus para impulsionar as nossas agendas políticas?"

"Em última análise, as disciplinas acadêmicas (embora caídas e defeituosas) são expressões do aprendizado humano, graciosamente concedido por Deus para sustentar a sua ordem designada até o último dia. Se nós entendermos a essência da História como o desenrolar da revelação da redenção do povo de Deus, as disciplinas ? mesmo quando exercidas pelos pagãos ? são instrumentos para o sustento da criação e, portanto, para o nosso próprio sustento, à medida que nos movemos da criação para a consumação".

"Nós genuinamente reconhecemos as contribuições dos incrédulos neste desenvolvimento ? que, no caso da erudição, geralmente superam as contribuições tangíveis feitas pelos crentes ? e somos abençoados por eles. Este entendimento situa-se em nítido contraste com os cristãos que rejeitam a Ciência Política, oferecendo um argumento de ?política segundo a Bíblia? que banaliza tanto a revelação geral, quanto à revelação especial de Deus".

Gualter 24/10/2023

Abordagem neocalvinista/Vatiliana à Ciência Política
Este livreto escrito por Cale Horne traz um aspecto ausente em outras obras do mesmo espectro teológico, a saber, a necessidade de interação com disciplinas de base empírica.

Segundo o autor, a ciência política é uma destas disciplinas, definida por ele da seguinte forma:

"Em uma definição simples, ciência política é uma ciência social com base empírica e orientação teórica, que trata dos empenhos humanos de uma natureza política. De modo geral, a disciplina compreende os padrões de cooperação e conflito entre pessoas e grupos ? as condições sob as quais os indivíduos ou grupos de indivíduos, com interesses divergentes, irão cooperar (ou não) para alcançar objetivos comuns.1 Nas palavras do famoso cientista político Harold Lasswell, ?O estudo da Política é o estudo da influência e do influente?, ou, como sugere o título do livro, agora um clássico, do qual essa citação foi extraída, a Ciência Política é o estudo de ?quem recebe o quê, quando e como?. (Horne, 2023, p. 6-7).

Suas premissas teológicas são de base neocalvinista, utilizando a já conhecida base conceitual de graça comum e antítese. Todavia, um diferencial entre Horne e outros autores como Koyzis, que trabalham na base neocalvinista é a sua epistemologia baseada em Cornelius Van Til.

Essa premissa talvez seja o que enfraquece um pouco o livreto, embora não tire suas boas contribuições. Isto porque ao postular uma epistemologia pressuposicionalsta, para julgar as contribuições não cristãs ao estudo da política, o autor parece deixar um ponto cego, visto que ao sempre pressupor a verdade de nossas posições sobre a bíblia, não poderemos ser corrigidos caso estejamos errados, de maneira que a evidência empírica não terá valor nenhum.

Talvez está não seja de fato uma implicação da epistemologia de Vantil, mas temo que possa ser um efeito indesejado desta. Ditas estas coisas, a obra apresenta cerca de dois conceitos de ciência política que poderiam ser utilizado por cristãos para melhor analisar as situações políticas, está parte é particularmente boa.

Por fim, o autor conclui a obra com um argumento teológico sobre a graça comum:

"Considere novamente a afirmação ?[Deus] faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos? no contexto das palavras de Jesus no Sermão do Monte, embora o texto seja sobre amar os seus inimigos. Deus não dá simplesmente as dádivas de sol e chuva como se assim fosse o fim da história. Pelo contrário, nós, como filhos de Deus, que modelemos o nosso comportamento após o gracioso precedente de amar os nossos inimigos, tornando-nos filhos do nosso Pai celeste (v. 45)." (Horne, 2023, p. 45)

Em geral, o livro não desenvolve profundamente nenhum argumento, de forma que obras como "visões e ilusões políticas " de David Koyzis ou "Fé cristã e ação política " de Pedro Dulci parecem funcionar melhor para uma introdução a perspectiva reformada. A contribuição do Horne então, é chamar atenção para que não fiquemos presos em formulações meramente teóricas/ ideológicas mas que pensemos política de forma mais bem fundamentada, fugindo de retóricas como "política segundo a bíblia" (que penso eu, fazem qualquer coisa menos interpretação séria da Bíblia) e passando a fazer política, levando em considerações pesquisas científicas sérias.