bobbie 19/09/2023
Pingos nos "i"s.
Este livro foi lançado pela editora em uma coleção chamada "Clube do crime", um resgate de clássicos esquecidos - ou nunca antes valorizados - que, aos olhos da editora, merecem seu lugar ao sol. Este é o segundo da coleção que leio. A premissa da coleção parecia ser publicar livros com a famosa construção do "quem matou?", mas não é o caso d'O cavalo cor-de-rosa. Aqui o leitor já sabe quem matou, ou pelo menos quem mandou matar e quais foram seus motivos. O mote da trama é a viagem de um faz-tudo/capanga/assassino de aluguel, antes protegido de um Senador, que arma a trama da morte da própria esposa para coletar o seguro de vida, mas não paga o capanga - de nome Sailor - o que havia combinado. Sailor se desprende para uma cidadezinha pequena, do interior dos Estados Unidos, onde convergem índios, espanhóis e americanos (em minoria), justamente em um período de festa que tradicionalmente celebra a vitória dos nativos contra os colonos invasores. Sailor chega na cidade e, desde o princípio, sua pecha de excluído se destaca: ele é o peixe diferente naquele mar de falantes de espanhol e de nativos americanos. Para piorar, por causa da celebração que dura três dias, ele não consegue um quarto em nenhum hotel e passa três dias dormindo na rua, sem sequer poder tomar um banho decente. O destaque do livro é o relacionamento muito bem trabalhado entre Sailor, o Senador e um policial, McIntyre, que também viaja à cidadezinha atrás do Senador a fim de solucionar o caso criminoso. Cada um a seu modo, o Senador e o policial representam figuras paternas na vida do jovem Sailor, que viveu perdido e largado de afeto e cuidado. O Senador foi o pai em potencial, que a princípio estaria resgatando Sailor da vida das ruas, mas que finda por corromper ainda mais o destino do rapaz. O policial, por sua vez, o pai-algoz, já prendeu Sailor uma vez por um delito de furto cometido, mas aparentemente tem a genuína preocupação de resgatá-lo da vida de crimes. Para coroar, conhecemos Don "Pancho Villa" José, ele próprio um residente da cidadezinha onde a trama de desenvolve, embora viva na rua e durma sob as estrelas. Don José entra como uma terceira figura paterna de Sailor, que cuida dele sem pedir nada em troca, não julga, não prega, e representa o amor incondicional que mais se interessa em dar do que receber. O grande "mistério" do livro é: Sailor conseguirá seu dinheiro? Conseguirá a redenção? Ou cairá de vez em ruína? O livro não é ágil nem prende com a força de tentáculos de um polvo adulto, mas a leitura vale. No final, o leitor que conseguiu se esforçar para chegar até a última página quer saber o que irá acontecer com esse homem bruto, que nada mais é do que uma criança assustada.