FellipeFFCardoso 15/08/2023
Ler o livro do Mark me colocou num lugar curioso: criança, enquanto visitava a casa de um familiar, vagando sozinho pelo quintal a descobrir coisas. Eu adorava fazer isso. O silêncio da investigação, a antecipação da descoberta, o medo de ser indagado sobre o que estava fazendo ali. Por que esse foi o lugar ao qual o livro me levou? Porque vasculhar páginas e páginas de palavras íntimas me deu, por alguns dias, a sensação de poder desvendar o mistério. Enquanto me embrenhava, fui percebendo duas coisas essenciais: a primeira é que o sentimento exploratório não desaparece. À medida que o lemos, não é raro perceber-nos olhando detrás das palavras para ver o que há por ali e, havendo, o que da novidade nos atravessará. Já a segunda é a dicotomia de quem busca: uma hora se encontra maravilhas, noutra não se encontra absolutamente nada. Gerenciar o contentamento e a frustração torna-se, assim, sinônimo da experiência da vida, em busca do gozo, do desejo, algo que pode-se dizer ser o grande epíteto do autor ao nos limitar o acesso ao subtexto, especialmente aos momentos romanescos que geraram tantas sessões e, claro, palavras. Senti, por isso, falta de poder projetar-me e buscar a catarse naqueles momentos negados, porque ao leitor o livro se dá como uma espécie de divã, mas isso diz muito mais sobre mim/leitor do que sobre Mark/autor. Recuperando o título bonito inspirado por uma música de Chico, o livro está ali disposto para que alguém o recupere e o reclame como seu. Por alguns momentos, ele foi meu (até que eu me vi criança e, claro, fui ser gauche eu mesmo na minha terapia, em busca de explicações sobre meu eu, meu eu mesmo e a potência que a literatura me dá). No geral, como se entregue a um canto sirênico, mas redivivo, o livro é um grande incômodo - isso é um baita elogio.