Escuridão ao Meio-Dia

Escuridão ao Meio-Dia Arthur Koestler




Resenhas - Escuridão ao meio-dia


8 encontrados | exibindo 1 a 8


(lidos só 2021 em diante) 31/01/2024

Uma obra admirada por George Orwell e outros
"A consciência corrói seu cérebro como um tumor canceroso até consumir toda a massa cinzenta".

"A maior tentação, para nós, é renunciar à violência, penitenciar-se, encontrar a paz dentro de nós mesmos. A maioria dos grandes revolucionários sucumbiu a essa tentação..."

"Você já leu um panfleto de uma sociedade antivivissecção? É tudo perturbador e de partir o coração; e ler sobre um pobre cachorro salsicha cujo fígado foi seccionado choramingando e lambendo as mãos de seus algozes faz a pessoa se sentir tão doente quanto você se sentiu esta noite. Mas se dependesse dessas pessoas, não teríamos hoje um soro contra cólera, tifo e difteria..."

Koestler não é só ficcionista. É ensaísta, filósofo, pesquisador. Há inúmeros artigos científicos sobre ele. Quando algum artigo científico faz citações sobre ele, são citações incríveis. Um romance dele não poderia ter menos elementos do que isso tudo.

Com certeza é um livro que pode desagradar quem é adorador de figuras políticas - independentemente dos lados.

Ao longo da narrativa tem diversas passagens reflexivas. Ele não é puxa-saco de nenhum líder político. Narra sobre atrocidades de grupos revolucionários e torturas políticas.

Algo que gosto em livros, é aprofundamento psicológico. Nesse quesito, a qualidade é aos moldes de, por exemplo, Nelson Rodrigues, outro cara que conhece da mente humana e de processos cognitivos.
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Claudia.livros 22/03/2024

Em primeiro lugar, essa obra é uma ficção, uma distopia (o autor concluiu a história em março de 1940, logo após se desvincular de suas ligações com o comunismo).

É uma história incrível e foi inspiração para George Orwell criar A Revolução dos Bichos.

Temos aqui Rubashov, um antigo revolucionário, de um país sem nome. Nesse país foi implantado o comunismo e em alguns anos se instaurou uma ditadura, tendo o Número 1 (você pensou no Stálin, né? Confessa, rs) como ditador implacável e sanguinário. Rubashov, em sua prisão aguardando julgamento, se depara com seu passado e reflete sobre sua dedicação de 40 anos à um projeto de sociedade utópica. Ele, que foi ídolo de gerações, tanto dentro como fora de seu país, agora enfrenta um opositor jovem conduzindo o interrogatório, jovem esse que desconhece a luta do passado pela Revolução e que não se importa com o currículo de toda uma vida dedicada aos ideais. É preciso cumprir sua obrigação, nada mais.

Há reflexões incríveis sobre o sentimento de culpa (incluindo religiosidade), relacionamentos, dedicação aos ideais, motivação, etc. São camadas e mais camadas... e não dá para falar muito sem dar spoiler. A leitura é fluida e deliciosa.

Importante: não deixe de ler o apêndice no final. É importantíssimo para compreender um pouco a história do autor e a criação do livro e como ele chegou até nossos dias.

Vale muito a pena. Recomendadíssimo ?
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Filipe 24/10/2022

É fácil simpatizar com o personagem principal, Rubashov, uma vez que o autor desenha bem as cenas e o psicológico de um prisioneiro político. No entanto, seu papel duplo e sua posição de não apenas vítima causa um estranhamento aos sentimentos.

Para além de uma história bem construída, emocionante, mas não imprevisível, a obra é um grande exemplar da literatura que provavelmente sacia a sede dos críticos mais ferrenhos às chamadas revoluções e seus métodos.

No mais, a obra de Arthur Koestler lembra muito o estilo distópico característico de George Orwell.
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Marcus Oliver 26/10/2023

O que sobra de um indivíduo depois da Revolução?
É com essa indagação que melhor se compreende a obra de Arthur Koestler.
Aqui há uma narrativa introspectiva em que se acompanha os relatos e reflexões do personagem Nícolas Salmanovich Rubashov (que está preso) e interações com seus interrogadores e um ou outro detento (com conversas rápidas e/ou batidas na parede com o alfabeto quadrático, uma espécie de código Morse).
Apenas com essa premissa podemos fazer algumas relações com este. Primeiro, a detenção de Rubashov e o jeito que seu processo é levado nos lembra o que ocorre com Joseph K. (?O processo?, de Franz Kafka, de 1925) em que não há nada que o protagonista fale, demonstre ou tente que mudará sua sentença. Segundo, trata-se de uma narrativa de cárcere em que se mergulha na psicologia do ser humano, lembrando obras como ?Escritos da casa morta?, de Fiódor Dostoiévski (1862), e ?Memórias do cárcere?, de Graciliano Ramos (1953), sendo estes dois bem relacionáveis com a narrativa de Koestler por conta da questão comunista e a União Soviética.
E sim, esta obra é uma das que Orwell cita como fundamental para a criação de ?1984? e ?Revolução dos bichos?.
Apesar de alguns rotularem como distopia, não se trata de uma por falta de um componente: uma tecnologia avançada em prol do controle e opressão das massas. Na realidade, esta obra é mais para um experimento ou retratação muito possível do que se ocorre, e ocorrerá, em prisões de Estados despóticos.
Rubashov fora preso por ser um opositor político de um país que fez a Grande Revolução do povo (paralelos aqui com a URSS) e em muitos momentos se dá a entender que se trata da Alemanha por conta de alguns detalhes narrativos, mas os nomes dos personagens são todos russos (o que causa alguma dificuldade em determinar o local desse país fictício).
Rubashov era um dos grandes figurões do Partido que fez a Revolução das Massas, mas por conta de algumas ideias suas (levar a Revolução para outros países europeus) foi preso sob falsas acusações. Será no período de sua detenção, três interrogatórios e momentos antes de sua sentença (não direi qual foi, é claro) que Rubashov irá pensar na sua vida, no país da Revolução e os ideais que consumiram sua vida.
Koestler, um ex-membro do Partido Comunista, que notou quando a União Soviética parou de ser um sonho utópico e se tornou um dos maiores estados-policiais da história sob o comando stalinista.
As reflexões de Rubashov são o ponto alto da narrativa, pois, mesmo não sendo culpado dos crimes que o acusam, ele ainda é culpado, pois ele sacrificou antigos camaradas em prol da Revolução e do Partido, por isso, a indagação do título: o que sobra de um indivíduo depois da Revolução?
Como todas as Revoluções, em especial a socialista, se cometeram atrocidades dos mais diversos tipos e todos os envolvidos, assim como Rubashov, utilizaram a justificativa que o futuro os absolviria por fazerem tudo aquilo em prol do estado comunista e das massas; mas a realidade se tornou outra: criaram um estado burocrático, despótico e policial.
Lembrando, apesar do autor escrever esse livro como uma crítica ao stalinismo de sua época, a obra serve com a mesma tônica de ?1984?, de Orwell, uma crítica aplicável a qualquer governo despótico (fascismo inclusive), mas pelo contexto histórico não haveria melhor palco que o contexto soviético, pois o personagem Rubashov é o ideal revolucionário pré-revolução e estabilização do país da Revolução, mas novamente a que custo, pois todos fazem o que é bom para o Partido, independente dos meios utilizados.
Todas as atrocidades foram cometidas por ideais que levariam a futuros melhores, o socialismo foi um deles. Houveram guerras santas (cruzadas e jihads), fascismo, guerras de sucessão, revoluções (francesa, por exemplo), guerras civis e golpes; mas uma vez atingido o objetivo quem toma o poder faz de tudo para mantê-lo e é aí que idealistas, como Rubashov, e os que estão no poder entram em conflitos de perspectivas e isso leva a mais violência.
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mberquoo 09/04/2023

?Quem não tem fé incondicional no Partido não pertence.?
Escuridão ao meio-dia vai deleitar os ávidos leitores de George Orwell, afinal, a semelhança das narrativas é clara: ambos viveram e retratam em suas obras regimes autoritários (geralmente inspirados no socialismo soviético)? mas o que poucos sabem é que Arthur Koestler inspirou Orwell, e não o contrário.
Logo após o lançamento, o romance de Koestler encantou à crítica, mas não tanto ao governo soviético, que logrou reprimir o sucesso do livro.

A narrativa se passa na cadeia de um país cujo nome nos é desconhecido (provavelmente uma tentativa bem sucedida de Arthur de retratar os regimes autoritários, de forma geral), e conta a história do julgamento de Rubashov, um líder revolucionário que, por discordar de certas condutas do partido, é reprimido pelo Estado. A alternância entre a narração de 3a e 1a pessoa torna a composição da história completa.

A nota de 3,5 estrelas (que ainda é acima da média, diga-se de passagem) porque alguns trechos podem ser maçantes. Ainda assim, Escuridão ao meio-dia vale a pena ser lido. Não nos esqueçamos do perigo do autoritarismo disfarçado de defesa da democracia.

FRASES MARCANTES:
? ?Quando e onde, na História, houvera Santos tão cheios de defeitos? Quando uma boa causa foi tão mal representada? Se o Partido incorporava a vontade da História, então a própria História é defeituosa.?

? ?Nunca na História tanto poder sobre o futuro da humanidade esteve concentrado em tão poucas me fez como em nossa revolução.?

? ?Portanto, tivemos de punir falsas ideias como outros punem crimes: com a morte.?

? ?Raramente se falava na morte, e as palavras ?fuzilamento? ou ?execução? quase nunca eram usadas, a expressão usual era ?liquidação física?. A expressão ?liquidação física? despertava, por sua vez, apenas uma ideia concreta: a cessação da atividade política. O ato de morrer em si era um detalhe técnico que não podia reivindicar interesse nenhum; a morte, como fator de cálculo lógico, havia perdido qualquer caráter físico íntimo.?

? ?Descobriu sua consciência, e uma consciência é tão imprópria para a Revolução quanto uma barriga gorda e um queixo duplo. A consciência corrói seu cérebro como um tumor canceroso até consumir toda a massa cinzenta.? / ?Uma única dose de piedade humanismo, e você está condenado.?

? ?A humanidade nunca experimentou uma bagunça como a que causamos.?

? ?Porque há aqui um movimento pendular inconfundível da História, do absolutismo à democracia, da democracia à ditadura absoluta.?
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Aline Maia 05/07/2023

"Escuridão ao meio-dia" é o tipo de livro que mexe com a gente, sobretudo quando descobrimos a história da publicação e dos manuscritos originais da obra. Koestler escreveu o livro nos anos 40 e o impacto na época foi absurdo. O romance apresenta as reflexões e devaneios do velho Rubachov, um homem preso numa prisão para perseguidos políticos - e que foi inspirado nos bolcheviques aniquilados no Grande Expurgo na URSS.

Por estarmos acompanhando os pensamentos de Rubachov nos deparamos com reflexões profundas e até desconfortáveis de ler. Uma vez que a cada interrogatório somos instigados a questionar se concordamos, entendemos ou simpatizamos com ele. A questão é: Koestler nos coloca dentro da cabeça de um político que foi fiel e fez o partido ser o que foi, mas que no fim da vida percebe quanto a teoria na prática foi extremamente falha.

Tudo que Rubachov fez era justificado com a ideia de que a nova geração teria uma vida melhor, um mundo mais justo e igual, porém, quando essa nova geração já está viva e dominando o espaço, ele percebe que a velha geração é vista como um empecilho. Quando envelheceu e viu o que permitiu que fosse construído na humanidade, Rubachov entende o tamanho do erro que cometeu.

Os diálogos entre o prisioneiro e seus superiores são magníficos.
Leitura mais que recomendada não só para os apreciadores de distopias.
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Luiza3302 02/09/2023

Clube de Leitura Mariana Brito
Eu li esse livro seguindo o Clube de Leitura da Mariana Brito.
O clube de ajudou muito com a experiência da leitura, agregando informações do contexto em que os Julgamentos Farsa aconteciam.
A escrita é fluida e com linguagem fácil.
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