Resenhas - História do inferno

Thiago275 06/11/2023

Sucinto, mas interessante
Escrito em 1994 e publicado aqui no Brasil em 2023, História do Inferno é um livro em que o historiador Georges Minois analisa a construção, ao longo do desenvolvimento das sociedades humanas, da ideia desse lugar de condenação eterna.

O autor analisa como os diferentes povos encaravam a ideia do mal e do seu consequente castigo (ou ausência dele), começando nas civilizações orais (povos xamânicos, pré-colombianos, germânicos e escandinavos), passando pelas grandes religiões orientais antigas (mesopotâmicos, egípcios, hinduístas) e pelos pagãos clássicos (gregos e romanos), terminando nos infernos bíblicos e hebraicos, incluindo o inferno cristão.

Interessante notar que as primeiras ideias de inferno geralmente não incluíam o conceito de condenação, sendo que a vida após a morte era vista como uma espécie de continuação desta existência, se bem que mais melancólica.

A ideia de inferno como um lugar destinado a punir os maus vai sendo construída lentamente, e atinge seu auge somente a partir do século XVII, após uma longa elaboração que atravessou toda a Idade Média, em que o fogo passou de uma metáfora que designa o remorso dos condenados para uma realidade.

George Minois demonstra como o texto das escrituras é bastante discreto com relação ao inferno, e como os detalhes macabros de seu funcionamento foram sendo esculpidos graças à cultura popular, e reforçados por um clero que tendia a usar o medo como instrumento de dominação.

Por fim, o Prof. Minois analisa a metamorfose do inferno, já no século XX, que muda o seu local e o seu significado. Não mais debaixo da Terra, mas dentro do coração do homem desiludido da existência. Uma ideia que Lucrécio, 2 mil anos atrás, já tinha aventado.

Embora o livro seja bem mais sucinto do que os outros do autor, a leitura vale a pena pela fluidez e pela rica pesquisa sobre esse tema que assombra a humanidade, de uma forma ou de outra, desde o início dos tempos. Afinal, quem nunca teve que encarar os próprios demônios?

Marto 06/02/2024

O inferno em nós mesmo
Primeiro contanto com o autor, e experiência maravilhosa. Aquele tipo de escrita semelhante a divulgação científica, só que sobre história, e uma parte da história que tanto interessa a humanidade como as respostas às suas angústia. Interessante como vemos que a ideia de inferno evoluiu e regrediu durante séculos e milênios, como o contexto social e os interesses de classe moldaram a visão de cada tempo, até mesmo objetivos específicos mudaram o conceito de inferno em sua época. Ansioso para ler mais textos desse autor.

Icaro 07/04/2024

O inferno são os outros
História do inferno - Georges Minois

Livro interessante sobre a evolução do conceito de inferno na história da humanidade.

De forma breve, o autor reconstrói vários momentos do conceito até chegar no inferno propriamente vivido enquanto da existência humana.

???

Fernanda.Caputo 15/04/2024

Uma viagem pelos diversos infernos
"O inferno dos vivos não é algo futuro; se existe um inferno, é aquele que já está aqui, o inferno em que vivemos todos os dias, que nós criamos por estarmos juntos".

Uma viagem pelos infernos ao longo do tempo e do espaço. O que esperar quando partirmos deste plano?

Neste livro, Minois explora as diversas concepções de inferno, desde os povos mais antigos da África, da América pré-colombiana, passando pela Grécia, por conceitos filosóficos, ideias literárias, religiosas.

Mesmo dentro da concepção de inferno cristã há divergências entre os teólogos: existe um lugar físico de fogo e tormentas ou é uma metáfora? Como um Deus infinitamente bom e misericordioso permitiria uma danação eterna sem possibilidade de salvação?

Incrivelmente bem escrito e muito envolvente, sem entrar em grandes digressões, apresentando as ideias de forma objetiva, este foi, sem dúvidas, um excelente complemento para a leitura da primeira parte da Divina Comédia (o inferno).

Recomendo muito a leitura!

andersonbzr 03/04/2024

"A História do Inferno" é uma obra que explora a origem e evolução do conceito de inferno, mostrando sua fusão entre culturas do Oriente Médio e greco-romanas. Apesar de seu conteúdo rico e abrangente, o livro apresenta uma escrita maçante e formal, semelhante a artigos científicos, o que pode dificultar a leitura e compreensão. A obra é repleta de referências que vão dos sumérios aos dias atuais e termina com a provocativa pergunta "por quê?", instigando reflexões sobre moralidade e ética. Embora desafiador, é uma leitura valiosa para quem busca entender a complexidade do tema.

Maíra Marques | @literamai 08/02/2024

? ?A história do inferno é a história do homem confrontado com sua própria existência.?
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?? "História do Inferno", de Georges Minois entrega exatamente o que o título quer dizer: A trajetória do inferno é uma "ideia" que surgiu ANOS ATRÁS, e que ainda hoje aterroriza quem acredita nele.
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Minois afirma que a ideia de inferno surgiu antes mesmo da Idade Média, provavelmente em 50.000 a.C. quando a prática de enterrar cadáveres surgiu entre os povos orais. Como não há registro de código moral, não há como ter certeza da "natureza" deste inferno naquela época. A partir desde ponto, o autor "viaja" até a África Negra, Xamânicos, América pré-Colombiana, Germânicos e Escandinavos, para então concluir que o conceito de PUNIÇÃO, veio com as grandes e desenvolvidas civilizações orientais.
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Apesar de um livro curto, nota-se que o autor teve o cuidado de entregar detalhes importantes para nossa compreensão e que justificassem seus pontos dentro do texto. Eu já tinha uma ideia de que o inferno não era uma criação cristã, mas fiquei surpresa ao ler sobre os debates de como ela surgiu e como foi utilizada até os dias de hoje. É muito claro que o inferno foi criado como algo para causar terror, deixar as pessoas receosas e com medo, ou seja, manipulá-las. Mas nem sempre teve esse objetivo, e desvendar esse detalhe deixou a leitura ainda mais interessante!
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"Os mitos infernais são criação das religiões, que alimentam inutilmente o medo. Mas existe um inferno verdadeiro, bem real: é a angústia ligada à própria existência." diz Lucrécio, poeta e filósofo nascido por volta de 100 a.C. e que cometeu su1c1dio em 55 a.C.
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Tomás de Aquino acreditava que o inferno está "lotado de pessoas" porque a salvação vem de uma "graça especial", a qual nem todos estão dispostos a conquistar, enquanto filósofos como Espinosa e Hobbes negavam qualquer existência ou ideia de punição pós-m0rt3.
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No fim das contas, concordo com os filósofos e escritores do século XIX que diziam que o inferno está na Terra.