Leila de Carvalho e Gonçalves 26/11/2022
Oitavo E Último Romance
Aniquilar é o oitavo romance de Michel Houellebecq e também o último, conforme o escritor afirma nos Agradecimentos do livro: ?Felizmente cheguei a uma conclusão positiva; é hora de parar.? (Página 609, e-book)
Curiosamente, o lançamento na França, em janeiro de 2022, foi antecedido por vazamentos até hoje não esclarecidos. Um mês antes, não só as primeiras páginas do romance foram distribuídas ilegalmente nas redes sociais, como também circulou uma cópia digital completa, provavelmente feita a partir da digitalização do livro físico, já que não fora preparada uma versão eletrônica na época.
Antecipando as eleições francesas de 2027, a narrativa reúne política, romance e espionagem. Abandonando o niilismo e o horror de obras anteriores, Houellebecq flerta com reflexões esotéricas na tentativa de encontrar um sentido para a vida e, em especial, para a morte. Para tanto, ele recorre ao ?Samsara?, o ciclo de morte e renascimento presente na maioria das tradições filosóficas hindus, e à Wicca, uma religião neopagã que vem se fortalecendo com a expansão do feminismo no Ocidente.
Trazendo ao foco uma França decadente e empobrecida em meio ao crescimento do populismo de direita, a narrativa apresenta o presidente francês, jamais nomeado, tentando eleger seu sucessor em meio a misteriosos ataques cibernéticos. Paul Raison, funcionário do Ministério da Economia e protagonista do livro, está envolvido tanto na campanha eleitoral como na investigação dos ataques, enquanto acompanha o precário estado de saúde do pai, vítima de um infarto cerebral, e tenta salvar seu casamento. Todavia, sua vida se desmantela a partir de uma mera consulta odontológica.
O livro tem dividido opiniões de crítica e público, o que não é novidade para quem sempre preferiu a polêmica à hegemonia. Se comparado aos anteriores, o fulcro é o mesmo, a miserabilidade das relações afetivas, contudo ele está menos corrosivo e mais compassivo. Nostálgico também pode ser um bom adjetivo tal qual bocejante, se privilegiar alguns trechos da narrativa.
Resumidamente, Aniquilar é uma dura critica a uma elite branca, conservadora e machista, que tenta a todo custo preservar suas tradições e manter-se no poder. Para tanto, o escritor construiu uma galeria de personagens de aparente ilibada reputação e a exceção é uma jornalista de relativo sucesso, cunhada de Paul, cujas ideias se contrapõem as da família do marido e alçada a vilã, também acaba vítima de suas próprias atitudes.
Se você nunca leu Houellebecq, eis uma boa oportunidade. Por outro lado, se você já conhece seus livros e, em especial, é seu admirador, Aniquilar está entre os lançamentos mais aguardados de 2022 e, em especial, se, de fato, for o último, não deve ser deixado para trás. Enfim, entre aplausos e apupos, o escritor continua a ser um mediático provocador e ninguém passa incólume por sua obra. Eis o segredo de seu sucesso.
Nota: Optei pelo e-book e recomendo.