Ana 07/11/2022
Fui apresentada ao escritor Jonathan Rock a partir do conto A Princesa e o Leprechaun, que é basicamente um prelúdio de um universo muito maior criado pelo autor, o Mundo de Pedra. Sendo assim, Rock me convidou para ler O Senhor das Pedras, o livro que introduz de fato essa sua série de fantasia mitológica. Vocês me conhecem muito bem e sabem que não costumo fazer esse tipo de leitura, mas volta e meia gosto de sair da minha bolha adolescente para experimentar coisas diferentes. Na maior parte das vezes sou surpreendida positivamente, ainda que faça uma crítica o outra. Mas enfim, justamente para isso que estou aqui hoje, contar para vocês minha experiência com esse livro.
O primeiro ponto que gostaria de destacar sobre O Senhor das Pedras é a condução da narrativa: são dois pontos de vista distintos, em que acompanhamos diferentes personagens e ambientes. Essa alternância de cenários é um recurso muito utilizado em livros fantásticos, e eu particularmente gosto muito porque traz um dinamismo maior para a história. No primeiro plano, o enredo gira em torno de Marcel, um bibliotecário que, incoscientemente, acaba cometendo um crime para adquirir um livro antigo e extremamente importante, feito de pedra. Para desvendar as escrituras, Marcel vai contar com a ajuda dos personagens Noah e Anne, que acabam se envolvendo diretamente com os acontecimentos. Enquanto Marcel, Anne e Noah estão ocupados com os mistérios envolvendo o livro de pedra, somos apresentados a James e Katrina, dois irmãos que se juntam à Queendom, uma organização que, além de estudar a humanidade e suas crenças, investiga situações sobrenaturais. É em uma dessas missões que Katrina e James descobrem os segredos envolvendo o Deus Ur.
Durante todo o livro, acompanhamos essas duas narrativas em paralelo. No começo eu fiquei bastante confusa, porque não estava conseguindo entender muito bem a ligação entre esses personagens que nunca se encontravam. Foi só com a descoberta de James e Katrina que compreendi que, de certa forma, os dois pontos de vista acabam se entrelaçando por causa do Deus Ur. As informações são entregues ao espectador aos poucos, a partir das investigações feitas pelos personagens dos dois grupos. A história é um imenso quebra-cabeças, então é preciso estar atento a cada mínimo detalhe para compreender as pistas deixadas pelo autor.
Para quem não sabe, Ur foi uma importante cidade-estado na antiga Suméria. Na bíblia, para muitos estudiosos, Ur é citada em Gênesis como a terra natal de Abraão. Abrãao teria sido o pai das religiões que defendem a existência de uma única divindade, como, por exemplo, o cristianismo. Estou citando isso para enfatizar que o autor se apropria de muitas mitologias para criar seu universo, incluindo questões da bíblia. Então, para quem é cristão e segue os preceitos bíblicos — o que signfica tratá-los como acontecimentos não-mitológicos —, é necessário manter a mente aberta.
Sobre os personagens, achei interessantíssima a forma como foram construídos. Não existem heróis e mocinhos em O Senhor das Pedras, simplesmente porque não existem pessoas 100% boas ou 100% más, sabem? No fim das contas, quando a gente quer atingir um objetivo, acabamos fazendo coisas não muito legais, mesmo que nossa essência seja majoritariamente boa. Outros personagens, ao meu ver, foram criados exatamente para trazer um incômodo: o Noah, por exemplo, é bem caricato e inconsequente, dá vontade de matá-lo na maior parte do tempo. Ah, uma curiosidade sobre o Noah que achei bem legal é que ele é uma pessoa não-binária!
Para mim, O Senhor das Pedras, além da fantasia mitológica, se encaixa muito bem no gênero horror, uma vez que possui cenas muito macabras, incluindo assassinatos, pensamentos suicidas e inúmeras situações sobrenaturais. Confesso que me atormenta um pouco quando essas cenas são muito gráficas porque eu me abalo muito facilmente e sou super medrosa, então acho que seria de bom tom ter um aviso de gatilho para os leitores no início do livro, como algumas editoras têm feito atualmente. Por causa dessas questões, principalmente, não indico o livro para menores de 16 anos.
Apesar de ter um certo ritmo e ser muito criativo — e bota criatividade na cabecinha do Jonathan —, existe um detalhe sobre o livro que me incomodou demais, ainda que não tenha nada a ver com o enredo em si: os capítulos são extremamente longos, e vocês sabem muito bem que eu sou do time capítulos curtos. Foi por causa disso que acabei demorando um pouco mais que o normal para finalizar a leitura. Às vezes eram tantas informações de uma vez na minha cabeça que eu ficava um pouco cansada... Lembrando que eu nunca largo um capítulo pela metade, e eis aí a razão de eu preferir capítulos curtos: conseguir pausar mais vezes a leitura para absorver as informações.
Em contrapartida, os capítulos finais são muito frenéticos e deixam claro que ainda existe muita coisa para acontecer. E para quem ficou curioso, tenho uma notícia muito bacana: além de estar disponível no Kindle Unlimited, o e-book de O Senhor das Pedras estará gratuito entre os dias 09 e 13 de novembro na Amazon, a oportunidade perfeita para conhecer essa história!
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