llammer 17/03/2024
Ler Ailton Krenak é sempre uma experiência profunda. São tantas reflexões que é difícil não escrever como uma forma de desabafo, quase um fluxo de consciência. Mas aqui vão os pontos principais.
Até 2023, essa série de falas da década de 1990 só havia sido publicada no Japão, o que diz muito sobre a desvalorização brasileira sobre tudo relacionado aos temas ambientais mais urgentes que o ocidente insiste em negar/negligenciar - desde a preservação da nossa memória, natureza e produção de conhecimento indígena até a proteção e garantia de direitos e da própria sobrevivência dos povos originários.
Os textos, apesar de serem transcrições de falas que ocorreram há aproximadamente 3 décadas, seguem atualíssimos. Tratam não somente da perda de confiança e de esperança na política brasileira após a Constituinte de 1987, do desmantelamento da UNI, dos assassinatos de ambientalistas e da impunidade em face do genocídio indígena e da destruição dos nossos biomas, mas também da necessidade de uma mudança de cosmovisão ou, no mínimo, de epistemologia para encarar os processos mais urgentes da emergência climática.
O último capítulo é o único texto escrito recentemente e, nele, aparecem de forma mais pragmática e madura as reflexões sobre o discurso da neutralidade como produtor de privilégios e os conceitos de abismo cognitivo e vida como dança cósmica.
O livro é lindo, carregado de sabedoria ancestral, delicado, mas revolucionário e potente, necessário hoje e sempre.