Resenhas - Madri 1940

IvaldoRocha 30/04/2024

Tem que ter estômago forte, não é para qualquer um.
Aqui jaz metade da Espanha,
Morta pela outra metade.

Mariano José de Larra

Uma história fictícia que se mistura com fatos e personagens reais, situada na Espanha do século XX.
Mariano Armijo chega em Madri com o firme propósito de se dar bem e conseguir uma colocação, onde quer que seja, de preferência na literatura, caso contrário em qualquer repartição, ou órgão do governo. Escreve alguns sonetos, mas acaba se saindo melhor escrevendo reportagens para algumas revistas.
É discípulo inconteste de José Antônio Primo de Rivera, o “Ausente”, político assim chamado por ter sido executado pelo regime. Sua morte não foi divulgada, evitando assim a criação de um mártir, mas de tempos em tempos alguns partidários saem com um caixão vazio fazendo o enterro de José Antônio.
Instalado em Madri Mariano logo conhece Maria Prisca marquesa de Arrambol, separada do marido e amante de um ministro. Ela o leva a frequentar o Clube de Golfe. Mariano passa a escrever algumas matérias e fazer algumas entrevistas para jornais e revistas. A dona da pensão onde mora lhe informa periodicamente como anda a depuração, “extermínio” por fuzilamento ou outras maneiras, nas diferentes províncias, era a chamada limpeza dos porões da Espanha.
Sua pena mata mais que sua pistola, que na verdade nunca chegou a utilizar, quando alguém que possa atrapalhar seus interesses surge, uma matéria sobre o assunto insinuando algum ilícito, a ser investigado e pronto.
María de la Escolnia é a nova paixão de Mariano chegou na pensão, bonita, falante e um pouco tísica, isso não diminui o encanto para Mariano, mesmo ela tendo um relacionamento com um rico fazendeiro.
A menina Juana que mora a beira de um rio com sua família em tendas, é um caso a parte. Mas Mariano já tem planos para isso.
Enfim Mariano se torna algo extremamente maligno, alguém que se acostumou com a maldade, a podridão, a tortura o extermínio. Algumas partes do romance são chocantes ao extremo, mesmo assim estão dentro do contexto da história, talvez conviver com a morte a todo instante transforme as pessoas e sua visão de mundo. Mesmo assim esteja preparado.
Possui no início um glossário de termos e personalidades que irão ajudá-lo a entender um pouco da situação política e econômica da época. Confesso que não conhecia quase nada sobre o assunto a não ser a figura do ditador Francisco Franco que governou a Espanha por mais de 35 anos, sendo responsável por aproximadamente mais de 200.000 mortes, junte-se a isso o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini, com os quais Franco assumiu uma posição de “falsa” neutralidade durante a segunda guerra.
Uma coisa fica clara, nada nesta história é por acaso, termos utilizados, nomes dos personagens, as situações criadas, as ruas onde as situações acontecem.
No final você encontrará um posfácio de Bénédicte de Buron-Brun professora especialista na obra de Francisco Umbral e um Contexto histórico de Valéria Marco professora de literatura espanhola na Universidade de São Paulo.
Francisco Umbral é ganhador dos dois principais prêmios de literatura da Espanha, Príncipe de Astúrias e o Miguel de Cervantes. Edição primorosa da editora Carambaia, livro em capa dura e ótima diagramação.