Marili 30/01/2024Poesia e sentimentalismo no fazer e aprenderAntes de tudo, preciso dizer que cada episódio do podcast Lombada aumentava muito a minha vontade de conhecer mais de pertinho os ensinamentos de Corita. Quando estamos imersos numa rotina frenética do mundo da criação (“exaustos-e-correndo”, como já pontuou bem Eliane Brum), receber ensinamentos desse tipo é como um abraço aconchegante e reconfortante. Ler Corita Kent devolveu o quentinho no meu coração.
Na pressão das entregas do dia a dia, temos poucas oportunidades de dar uns passinhos para trás e rever a forma como encaramos a criatividade. Nesse livro, Corita nos conduz a olhar pra dentro, mas com o olhar bem atento para o que está fora. Afinal, todo o entorno nos constrói e ganha uma nova perspectiva quando utilizados como fonte numa criação — mas construídos, modificados e coloridos com o nosso olhar. Corita ensina de uma forma poética e cheia de sentimentalismo — algo que tem feito falta nas entregas a jato dos nossos dias caóticos. Ela nos encoraja a olhar o criativo brotando aqui dentro e, mais do que isso: nos faz enxergar que a criatividade está por todos os cantos. Basta seguir com o olhar atento.
Num momento em que começo a lecionar (quando ainda sinto que estou só começando a aprender e, principalmente, aprendendo a criar), começo a ver a importância de estimular um olhar sensível e apurado para podermos criar, ensinar e aprender. Criar de coração. Só o coração é capaz de aprender, firmando as raízes no corpo pra nunca mais esquecer. Não existe criação e aprendizado sem sentir.
Deixo aqui um trechinho do livro:
“A criatividade pertence ao artista dentro de cada um de nós. Criar significa se relacionar. A raiz do significado da palavra “arte” é “encaixar”, e fazemos isso todos os dias. Não somos todos pintores, mas todos somos artistas. Toda vez que encaixamos coisas, estamos criando — seja para gerar um pão, uma criança, um dia.
No processo criativo, há uma energia que é capaz de elevar, unificar e harmonizar todos nós.”
Recomendo principalmente aos que trabalham com criação, que sentem vontade de resgatar o aconchego e a beleza no fazer.