A crise da narração

A crise da narração Byung-Chul Han




Resenhas - A crise da narração


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Adryelle20 23/03/2024

é né
Realmente narrativas estão acabando mas homem acorda consumo acontece do mesmo jeito!!!! bora ver que consumo também une, logo você dá coreia vindo falar isso!
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AleixoItalo 14/05/2024

Mais interessante e pontual que o único outro livro que li do autor, A Crise da Narração tenta expor os fatores que estariam degradando de maneira virulenta as relações humanas, num amplo processo de derretimento da sociedade contemporânea.

Ao contrário de outras espécies o Homo sapiens depende de narrativas para empreender relações sociais, pois são elas que explicam o mundo, ditam regras e estabelecem a coesão do tecido social. Os filósofos debatem há décadas, que com a era da informação e o surgimento cada vez maior de novas narrativas, o pensamento contemporâneo perderia o sentido — ora, se elas existem para integrar um grande número de indivíduos, a existência de várias narrativas individuais seria uma nêmese para esse sistema. Em A Crise da Narração, Byung-Chul Han aponta um outro problema da sociedade moderna: o fim do próprio modelo narrativo.

Nesse livro ele ataca o excesso de informação que é produzimos atualmente — cuja máxima vemos nas redes sociais. A dinâmica social do mundo moderno, exige a produção infindável de informações por parte do usuário — sim, nesse sistema deixaríamos de ser algo por si só atuando apenas usuários — em detrimento de qualquer narrativa associada à elas. Acontece que é necessária a existência de uma narrativa para conectar informações, posicioná-las numa linha temporal coerente e analisar as coisas a partir de um distanciamento natural.

Embora bastante fugaz, o livro aborda alguns pontos importantes. Um deles é o sobre o funcionamento do próprio cérebro, que utiliza a memória para criar uma narrativa e processar as informações. Porém, quando se tratam de informações em estado puro, sem nenhum tipo de contexto, o cérebro seria estimulado ininterruptamente por um fluxo sem fim de impulsos, sem sentido ou noção de tempo. Esse estado de eterno presente, nos desconecta da realidade e de nossa posição no mundo, e nos obriga a gerar informações permanentemente, apenas para fazer parte desse presente.

O grande problema do consumo desenfreado de informações puras é que, como esse processo não utiliza a memória, também não cria empatia e nem relações sociais verdadeiras. Para piorar, como se trata de um processo que se retroalimenta, as informações se tornam um bem de consumo, que é monetizado pelo pensamento neoliberal atual, de tal modo que o algoritmo nos obriga a produzi-las cada vez mais.

Certo, mas e daí? Uma vez exposta a problemática quais seriam as consequências disso no mundo real? A Crise da Narração não se aprofunda de fato e soa mais como um manifesto pessoal contra o fluxo de informação. A própria argumentação se perde bastante, quando o autor recorre à psicanálise para falar das qualidades terapêuticas das narrativas — um lodaçal pseudocientífico onde fica difícil estabelecer um ponto de debate. Ainda assim, o livro deixa claro quais são os sintomas dessa situação: o vício cada vez mais intenso em consumir e produzir conteúdo, uma necessidade "fisiológica" em frequentar as redes sociais e problemas clínicos como estresse, ansiedade, depressão, etc...

Mesmo sem ser muito profundo, A Crise da Narração mostra de maneira clara esses problemas que já estão escancarados na nossa sociedade. Eles vão de mudanças graduais no comportamento, como as trends que se autorreplicam de maneira viral e a produção de textos e vídeos cada vez mais curtos — dessa forma, sobra mais tempo para consumir mais — até mudanças massivas, como a manufatura de narrativas de interesse comercial e o desaparecimento de interações sociais reais. A divulgação científica e o jornalismo, dão lugar ao react, na ausência do contexto, a fake new tem tanto substrato quanto qualquer outro tipo de informação. A resposta à essas mudanças, é produzir cada vez mais informação, pois quem não o faz, não existe nesse mundo dos dados, que cada vez mais se torna mais importante que o mundo real.

Voltando ao livro... é difícil entender onde a obra de Byung-Chul Han se insere. Seu pensamento oferece menos reflexão, do que exposição à um problema que transcende o escopo do livro — embora de certa forma seja esse o papel de todo filósofo. Por opção meramente estética e gosto pessoal, gosto mais da posição de autores como o Yuval Harari, que também discute, embora de maneira mais objetiva, o futuro da sociedade. De qualquer forma é uma leitura que vale a pena, senão pelo trabalho do autor, pelo tema, sobre o qual todos nós já deveríamos estar refletindo à essa altura.
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