Greg.Frees 28/04/2024
Felizes os Felizes - Yasmina Reza
Reza tem uma escrita crua, como a vida. Ela não a romantiza, ao contrário: desromantiza…
Escrito em capítulos curtos, onde cada capítulo é intitulado com os nomes dos personagens desta trama, acompanhamos capítulo a capítulo a vida da burguesia/classe média francesa. Seus capítulos parecem independentes, contos separados, fluxos de consciência. Tudo isso se entrelaça, vai-se encaixando como um grande quebra-cabeça. Cada capítulo nos traz a perspectiva dos personagens, suas vidas, seus desejos, seus anseios - não mais conquistáveis -, arrependimentos e pecados.
Pegamos o livro e esperamos um mar calmo- ora, estamos falando da classe média, da vida serena, da vida não suburbana-, onde possamos colocar nossos pés com tranquilidade. Yasmina Reza já nos retira deste conforto. Ela deseja o desconforto. O primeiro capítulo é uma discussão - seguido de agressão - do casal Toscano. Quando nossos pés esperam a calmaria das primeiras ondas, recebem a tempestade do alto mar.
Esta tempestade vai aumentando conforme adentramos nesse mar. Os felizes estão em pleno caos marítimo, mas disfarçam e tocam seus violinos. Ora, não estamos todos tocando nossos violinos? Não estamos todos em uma guerra interna e não bastando o ataque a nós, atacamos os outros? Somos os piratas das vidas alheias e das nossas próprias. Deixemos os devaneios e voltemos ao livro!
O sexo oral com a nota de dinheiro sendo esfregada no rosto, a deglutição da carta do baralho, o sarcasmo cortante sobre a morte, as traições. A vontade de não estar ali, a vontade de não estar com a pessoa que casou, a vontade de não estar com ela nem depois da morte, a vontade de não estar ali sozinho, a vontade de não estar consigo mesmo, a vontade de não estar ali vivendo. O alívio para os felizes é apenas um: serem cinzas e nadarem eternamente sobre as águas.