Estranhos devaneios

Estranhos devaneios Felipe Felix




Resenhas - Estranhos devaneios


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Pedro 01/02/2024

Honesto e intimista como um diário aberto
Um término é uma experiência que a maior parte das pessoas que se envolveram romanticamente com alguém já viveu. Poucos passam toda a vida com um único par, não é mesmo? Mas sortudos são aqueles que, mesmo sofrendo um impacto inicial, conseguem prosseguir com a vida naturalmente. Para a maior parte de nós, meros mortais, a decepção amorosa costuma trazer crises, questionamentos e angústias. Mas vejamos pelo lado positivo: se não fosse por isso, não teríamos tantas músicas, filmes e romance como esse aqui.

O protagonista está passando por esse exato momento. Após um curto, porém intenso, relacionamento, ele precisa passar por todas as fases do luto do sentimento que se despede e da vida que poderia ter existido. Esse, contudo, é só um estopim para uma série de reflexões e, como o próprio título indica, devaneios sobre si mesmo, seus relacionamentos afetivos e sexuais, família, amigos e arte.

Com uma escrita em primeira pessoa que simula, com bastante veracidade, uma autobiografia, sentimos que estamos do lado desse protagonista, conversando diretamente com ele, ouvindo seus desabafos e segredos. Como parte do processo de superação do término, ele retoma várias vezes a angústia sentida em relação a seu ex-namorado. Ou seja, há coerência nessa decisão de escrita. Mas, talvez por não ser particularmente fascinado por reflexões acerca de amor, essas acabaram me instigando menos. Senti muito mais interesse em entender sua personalidade e toda a vida que ele tem além de seu ex. Felizmente, o próprio autor parece acompanhar com a escrita a percepção do personagem de que, sim, existe uma vida além dessa decepção amorosa, e, com isso, vai cedendo cada vez mais espaço de texto à descoberta do amor além do romance, o amor por si mesmo, pela cidade e pelo mundo.

Um detalhe curioso é que os nomes de todos os personagens são representados apenas pelas primeiras letras. Por um lado, foi uma escolha interessante só aumentar a sensação autobiográfica da leitura, como se os fatos narrados fossem tão verdadeiros que seria necessário esconder as identidades dos envolvidos por questão de privacidade (com o adicional de que a sensação de entrar na vida privada desses personagens faz parte da experiência). Por outro, eventualmente as abreviações vão se acumulando e vai ficando difícil diferenciar um do outro. Não é algo que prejudique tanto a leitura, já que de todo jeito o foco está no psicológico de seu protagonista. Mas fica uma observação aqui.

Leitura muito recomendada para aqueles interessados não só em histórias de amor (e seu eventual fim), mas também em histórias sobre o amar escritas com uma crueza honesta que foge de idealizações sem abraçar o pessimismo.
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