estantedajaquinha 25/03/2024
DON E A MUMIA SATANÁS FORMAM UM BELO PAR
O livro conta a história de Ben, que largou tudo para viajar pelo mundo, contudo, logo em sua primeira parada, uma força maligna começa a atraí-lo e conectá-lo ao passado sombrio de um antigo inquilino do lugar em que ele se hospedou.Em meio a tudo isso, Ben conhece Ana e seu filho Hugo, uma criança sensitiva que consegue se conectar com o outro lado
Nas entranhas do abismo é um livro de terror, com os dois pés no thriller, juntando o melhor dos dois mundos: aguça sua curiosidade e tem cenas creepies. Isso ocorre porque não sabemos ao certo o que conecta os dois personagens e qual a verdadeira origem da força maligna que atraiu Ben e tantas outras pessoas antes dele; além disso, essa mesma entidade, que carinhosamente apelidei de múmia satanás (também chamada de deus do abismo), influencia aqueles que caem sob seu domínio a alimentá-la.
A alimentação dessa entidade remete um pouco à it, a coisa, de Stephen King, uma vez que sua fonte de poder é o medo e a dor das vítimas de seus servos. Outra referência é que ela encontra-se alojada nas profundezas da pensão que Ben está hospedado, trazendo também uma forte lembrança de outro grande clássico do mestre do terror: O Iluminado.
É nesse Hotel que Ben terá sua história entrelaçada com o melhor personagem da trama: Dominic, um homem que cedeu à influência do deus do abismo e cometeu uma série de atrocidades ao longo da trama. Porém, apesar de acompanharmos as duas histórias simultaneamente, Don é um personagem do passado.
O jogo com o tempo é um ponto importante dentro da história e requer uma dose de atenção do leitor, principalmente porque haverá momentos em que as duas realidades (passado e presente) passam a se mesclar. Particularmente, não achei que isso prejudicou o entendimento da trama, mas sim deu um charme a mais para ela, pois amo quando recursos assim são utilizados, porém, é bom aplicar uma atenção a mais nessa leitura.
Ao meu ver, apesar de Ben ser considerado o herói da história, Don merece muito crédito dentro da construção da obra. Ele é um homem dúbio, complexo, egoísta e com o senso de humanidade deteriorado, que acabou cedendo espaço para a escuridão ao encontrar-se afundado na lama, contudo, acredita ainda que a sua sede de poder seria uma passagem para a redenção. Por outro lado, Ben até pode parecer ter uma personalidade similar com a de Don no início da narrativa, mas logo fica claro que seus valores morais ainda são sua bússola, principalmente quando toda a confusão com a múmia satanás passa a envolver seus dois novos amigos: Ana e Hugo.
É também no hotel que Ben encontra Ana e Hugo, a criança iluminada, que consegue se conectar com o mundo dos mortos. Bem no estilo de Danny (O Iluminado) e de Cole Sear (O Sexto Sentido). A criança é parte fundamental da trama e ajuda Ben a perceber que os acontecimentos ao seu redor não são coisa da cabeça dele, além de criar um laço estreito com o protagonista. Por outro lado, senti que Ana não fez tanta diferença na história, ao menos não neste primeiro volume.
A narrativa de Jader é extremamente gráfica e fluida, uma vez que ele consegue passar toda a extensão de uma cena sinistra através da visão dos personagens de forma perfeita, o que eu considero uma excelente qualidade em um escritor de terror. Contudo, senti falta de mais descrições nas cenas de ação, pois um pouco mais de detalhamento do agir dos personagens traria uma melhor formação dos acontecimentos dentro da imaginação do leitor, o que teve um leve impacto no desenrolar de um dos atos finais da história.
Antes de me despedir, gostaria de deixar avisado para aqueles que não são tão afeitos a narrativas escabrosas: Se o oculto e a escuridão te amedrontam, esse livro não é para você.Mas para aqueles que curtem uma boa história de terror, com bastante mistério e linhas temporais que se unem, leiam sem medo!
Confesso que mal posso esperar pelo segundo volume! Eu preciso de respostas!