Alguém Parado Lá Fora

Alguém Parado Lá Fora William Gaddis




Resenhas - Alguém Parado Lá Fora


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jkdornelles 27/08/2010

Narrativa narrada praticamente só com diálogos, entrecortados por descrições austeras atiradas ao léu. Perspectiva sempre exterior ao que ocorre, sem profundidades psicológicas maiores que as que poderiam ser filmadas ou fotografadas (neste sentido lembra alguns textos de Robbe-grillet, autor/diretor de filmes francês muito avesso ao psicologismo. Ou a influência seria inversa, Gaddis que lhe influenciou?)

Uma grande reflexão sobre paranóia contemporânea, mas também sobre a comunicação problemáticas e absurda dos tempos de hoje. O diálogos são monólogos surdos, ninguém se entende ali. Sobre também a impossibilidade também de retratar as problemáticas ultra-fugazes, mas não menos importantes, dos anos pós-guerra. Marketing e religião, Colonialismo e lobby, um anunciado humanismo que quer tão somente receber a herança do papai, evolucionismo vs. creacionismo, tecnologia, política e status. Tudo se passando como televisão buscando sintonia, e que não encontra em nenhuma emissora. Os personagens são um casal, um ex-soldado falcatrua e sua mulher negligenciada, o irmão hippie dela e a herança de ambos. As pessoas que vem aparecendo. História é situada em uma casa afastada da cidade, todos possiveis protagonistas estão também afastados de suas funções e tudo que acontece é "lá fora". Aqui a verdade está lá fora.

A narrativa estilizada complica um pouco a fluência, ao que parece fruto de experimentação do autor. O título original, Carpenter's Gothic faz referencia à arquitetura da casa onde se batem os personagens, uma mansão artesanal ensaiada por um artesão auto-didata, e de certo, pernóstico. Mansão mal-assombrada como nos contos góticos, mas aqui os fantasmas outros, pessoas que não conseguem comunicação entre si. De fato, a idéia ecoa no texto, que segue uma linha de narrativa oblíqua, bifurcada e barroca, que se não engrena no ritmo de leitura, tranca.

Não é o livro que você deve escolher pra aquele fim de semana na praia, tão somente se suas preocupações lá forem as filas de supermercado, ótima qualidade da programação dominical na televisão brasileira ou a degradação ambiental do litoral, que segue indo para estágios avançados.
Se você realmente QUER refletir profundamente sobre problemas contemporaneos - na praia - eis aqui um livro. Parar pra lê-lo, depois do almoço, sem nenhum outro livro, e com uma leve insolação. Só se precisa disto pra se parar mesmo pra pensar em algumas soluções desesperadas pro mundo. Ao menos pra dor de cabeça, existe remédio.

Brincadeiras à parte, o livro tem seus méritos. Não é qualquer um que consegue trançar um enredo envolvente quase exclusivamente com diálogos. São os personagens que trazem aqui seus cenários, seus conteúdos, o elenco deles no livro é representativo. São tipos de classes distintas da sociedade norte-americana, políticos e donas de casa, caminhoneiros e religiosos fanáticos. Livro virtuoso também no quesito formal, a forma como a história é narrada é também tão importante quanto ela. Recursos que o autor utilizou e que nos leva a uma reflexao anterior, e por isso muito mais profunda, sobre nossas imensas falhas de comunicação e aonde tudo isso pode parar.
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