Isis.Borges 30/05/2022
uma criatura perdidinha
A "criatura dócil" é uma órfã de 16 anos, que numa situação de vulnerabilidade, acaba aceitando casar-se com o narrador dessa história, um homem de 41 anos, dono de uma loja de penhores.
A menina ia até a loja de penhores com frequência, porque precisava de dinheiro para anunciar no jornal sua disponibilidade para trabalhar. Com um discursinho de bom moço de que seria bom para ela, conseguiu a convencer e enfim casaram-se.
Ele era louco por ela, mas nada rolou entre eles, Dostoiévski foi muito discreto em relação a isso, mas acho que eles nunca dormiram juntos, o que o deixava louco, ele era um cara perturbado e extremamente tóxico, ele tinha pensamentos doentios do tipo:
"... aos meus olhos ela estava tão derrotada, tão humilhada, tão esmagada, que às vezes torturava-me de compaixão por ela, se bem que, apesar de tudo, às vezes a ideia da sua humilhação decididamente me agradasse. Agradava-me a ideia dessa nossa desigualdade."
Ele gostava da desigualdade, tanto de idade, como de se sentir superior a ela, de sentir que ela deveria ser grata a ele, etc. Eu detestei ele do começo ao fim, ele precisava de uma terapia e não de uma esposa.
Como a história é contada por ele, jamais saberemos porque ela fez o que fez. Mas, uma pessoa não faz isso se está feliz e satisfeita, ela não iria recorrer ao último recurso de um ser encurralado se não estivesse sem um pingo de fé na vida. Fiquei com dó dela, não sei se era uma criatura dócil, mas com certeza era criatura perdida, precisava tanto de uma orientação, acho que sentia muita a falta dos pais.