Caroline Gurgel 18/01/2016Um penhorista chato, uma narrativa excelenteUma criatura dócil foi mais um daqueles livros que comprei no escuro, sem ler sinopse, confiando apenas no autor e na seleção da editora, e não me arrependi.
Dostoiévski narra a história de um penhorista, um homem egoísta, machista e irritante, que tenta entender a morte de sua esposa. Diante de seu corpo morto, ele, o narrador sem nome, nos conta como conheceu sua esposa, as circunstâncias do casamento e um pouco do cotidiano, refazendo sua trajetória a fim de descobrir as causas daquela morte.
A história em si não me agradou, mas a escrita é tão incrível que fica difícil achar algo ruim. A angústia daquele homem que não quer se culpar é sentida nas palavras e suas repetições. O conflito enorme que se passa em sua cabeça é exposto com maestria e é impossível não sentir um pouco de piedade, mesmo diante de um chato egocêntrico.
Pelos olhos do narrador, Dostoievski nos traz dois personagens cheios de camadas, complexos e muito bem apresentados, e critica aquele tipo de casamento, a impotência da esposa e a infelicidade de ambos.
O que dizer da última linha do texto? Será? É, talvez seja quase sempre assim, só percebemos quando não mais temos.
3.5/5
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