Cley 01/07/2020Nápoles, década de 90.
"Dois anos antes de sair de casa, meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia...
Não tem a ver com a adolescência: está ficando a cara de Vittoria."
Esse comentário, feito pelo pai de Giovanna, desencadeia uma curiosidade pela sua tia, uma mulher que, segundo seu pai, só pensa em si desestruturou toda a família. Isso causa em nossa protagonista uma onda de pensamentos que farão com que ela mesma tire a prova e entenda se Vittoria é quem seu pai diz ser ou não.
Essa leitura foi minha primeira experiência com a escrita da Ferrante, uma autora que tinha curiosidade em conhecê-la, pois, suas histórias tecem uma linha que aprecio: drama familiar.
Narrado do ponto de vista da Giovanna, distribuída em sete partes em que cada uma exibe pontos específicos da vida da protagonista, a obra é uma configuração de um crescimento regado a muitas inverdades.
Através dos pensamentos da Giovanna, percebemos uma garota que descobre que nem tudo é o que parece, que os adultos escondem coisas que eles querem que fiquem escondidas.
A escrita da Ferrante não é uma linguagem difícil de ser compreendia, porém, sua maneira poética e culta de narrar os acontecimentos, pode desfavorecer alguns leitores.
Como o livro é narrado em primeira pessoa, é impossível medir o caráter de cada personagem, eles são construídos para que tenhamos a mesma visão da Giovanna, mas esse prisma me inquietou, porque gostaria de ter tido um aprofundamento maior em alguns deles, por exemplo, Vittoria, tia dela.
Não há grandes acontecimentos na narrativa. Nos deparamos com situações que poderiam acontecer em qualquer família. Não posso dizer isso com exatidão, mas penso que o objetivo da autora em seus livros, é fazer com o leitor se veja naquilo que é exposto.
Giovanna me intrigou, e acredito que a construção em cima da personagem garante que a visão entre fazer o certo e errado, ser quem você é, ou viver à margem de outra é o que vai nos definir. E está no caminho certo ou errado é só uma questão de perspectiva.